segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O FUTURO DOS JORNAIS

O Público de hoje traz, através da opinião de Pacheco Pereira, para a agenda a questão recorrente do futuro dos jornais em papel. Pacheco Pereira sustenta que o futuro mais imediato passará por uma bi-direccionalidade do trabalho dos jornais. Uma redacção on-line dirigida para o imediatismo, a notícia na hora, e uma redacção dirigida para a edição em papel com outro nível de abordagem e tratamento dos assuntos, mais mediata e aprofundada.
Enquanto leitor creio que Pacheco Pereira em razão. Os jornais em papel têm do meu ponto de vista, uma função, não completamente substituída pela imprensa on-line desde que assuma critérios de qualidade e linhas editoriais transparentes. Aliás, numa entrevista ao Público de há algum tempo, um especialista, Tom Rosenstiel afirmava que se o jornalismo, (os jornais), deixar de ser rentável e, como tal, corra o risco de desaparecimento, as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico".
Creio que a cidadania de qualidade exige uma imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e, sou um optimista, acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais. Quando escrevo sobre estas matérias recordo-me sempre de jornais e jornalistas que me têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter leitor diário de jornais em papel. É que, apesar de também consumir informação noutros suportes, não é a mesma coisa.
Sem a preocupação de ser exaustivo ou seguir qualquer ordem que não seja a memória, algumas referências que estão dentro da minha mochila.
Quando era miúdo aguardava com a maior das ansiedades que o meu pai chegasse do trabalho no Arsenal do Alfeite para trazer a Bola já lida por muitas mãos e onde se "aprendia" a ler com o Vítor Santos ou o Aurélio Márcio.
Lembro-me como a adolescência e juventude ficaram ligadas a títulos como o Comércio do Funchal com Vicente Jorge Silva, o Jornal do Fundão com o António Paulouro ou o Notícias da Amadora, janelas, frestas, por onde se espreitava a realidade um regime espesso e fechado teimava em esconder e censurar.
Recordo com saudade o Diário de Lisboa com o suplemento A Mosca com Luís Sttau Monteiro ou as ilustrações do Abel Manta ou o Diário Popular com o Baptista Bastos que ainda anda por aí. A circunspecção formal e competente do Diário de Notícias com Mário Mesquita e o outro Mário, o Bettencourt Resendes ou a inovação e agitação trazida pelo Independente de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas. Não esqueço a abertura possível verificada com a "ala liberal" de Pinto Balsemão ou Sá Carneiro ligada ao Expresso que mexeu seriamente com o jornalismo em Portugal. Relembro o espaço que o Jornal de Letras veio ocupar com José Carlos Vasconcelos.
Finalmente, o registo do aparecimento do Público, um companheiro com quem me zango tantas vezes mas que continua a entrar diariamente cá em casa na versão papel.
Pois é, os jornais são como os dias, nunca acabam. Enquanto se fizer jornalismo, a sério.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não se esqueça do Diário do Sul do seu (nosso) Alentejo, que faz hoje 43 anos.

Quanto à Bola ainda sou do tempo do tamanho tablóide, muito grande para os meus braços de então.

Abraço
António Caroço

Zé Morgado disse...

É verdade António, bem lembrado.