sábado, 11 de fevereiro de 2012

O COPO MEIO CHEIO OU O COPO MEIO VAZIO

Um dos aspectos invariavelmente envolvidos na realização de acções de protesto é a contabilidade em torno dos níveis de adesão, para uns o copo estará meio cheio, para outros estará meio vazio. As discrepâncias, de acordo com o posicionamento das fontes de informação, são extraordinárias. Lembram-se certamente de uma manifestação de trabalhadores da administração pública em 6 de Novembro de 2010, em que a organização estimou em 100 000 os participantes e um especialista americano que se encontrava em Lisboa avaliou a participação entre 8 000 e 10 000. Na altura lembro-me de ter escrito que não tendo estado presente e não tendo outras fontes de informação validada, só podia depreender que uma das avaliações estaria "ligeiramente" enganada.
Ainda antes de começarem a surgir os primeiros números da adesão à manifestação de hoje, poderemos certamente antecipar que, como é hábito, se instalará um consenso estranho, todos ganharam.
As estruturas representantes da administração e dos empregadores virão muito provavelmente afirmar que se registou um bom resultado pois a iniciativa não teve a adesão referida e ou esperada, pelo que fica evidente a aceitação ou, pelo menos, a compreensão das políticas seguidas e a bondade dos seus pontos de vista, etc.
Por outro lado, as estruturas representativas dos trabalhadores ou outros organizadores informam-nos que a adesão correspondeu às expectativas, que os trabalhadores, os cidadãos, mostraram o seu descontentamento, que o movimento sindical e a condenação das políticas obtiverm mais uma retumbante vitória, etc.
A questão é que esta discrepância, do meu ponto de vista, acaba por desvalorizar os efeitos da própria manifestação greve pois, como é sabido, muitos estudos têm vindo a demonstrá-lo, os níveis de cultura política, participação cívica, precariedade laboral, custos económicos, etc., levam a que uma percentagem muito significativa de pessoas que embora estando de acordo com a razão dos protestos não adiram à realização da greve. Há circunstâncias em que quando todos afirmam que ganham, todos estão a perder.
Para já estamos a perder o presente, as dificuldades que estão na origem do descontentamento das pessoas, das que aderem às manifestações de protesto e de muitas que não aderem, são graves e sérias.
E o risco de perdermos o futuro é também uma ameaça, os tempos estão difíceis e a desesperança é muita.
Creio que nesta altura a maioria de nós, presente ou não na manifestação, achará que o copo está meio vazio. Vão muito difíceis os tempos.

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