sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O FRIO OU A FALTA DE CALOR

Este texto vai ter de novo como tema o frio, ou melhor, a falta de calor. Estamos no tempo. Sempre que a temperatura começa a descer surgem as notícias, os alertas e as referências às mortes devido ao frio. Sem surpresa, estas situações trágicas atingem fundamentalmente os excluídos e pobres, designadamente os sem-abrigo. É então frequente, já começámos a assistir hoje, a peças na comunicação social em que se mostram as medidas acrescidas de apoio a alguns grupos que se consideram mais vulneráveis ao frio.
O problema é que esta gente não corre risco de vida por causa do frio, corre risco de vida por causa da falta de calor. Não, não estou a fazer alguma espécie de humor de mau gosto e desadequado. É mesmo isso.
Algumas pessoas vivem numa condição inaceitável e na grande maioria das vezes não é uma escolha sua. Faltou-lhes a partir de certa altura, ou nunca tiveram, o calor de uma casa, de uma família, de um trabalho que lhes desse sustento e dignidade que não mais conseguiram recuperar ou alcançar. O frio ou qualquer outro episódio extremo vai ser o gatilho que os tombará e constará na certidão de óbito. Mas não, não morrem de frio, morrem de falta de calor. Quando não se tem falta de calor, não se morre de frio.
Se assim não entendermos, e não me parece que queiramos entender, vamos continuar apenas atentos à meteorologia e a comunidade, no seu todo, é importante sublinhar que alguns esforçam-se para que assim não seja, nessa altura lembra-se dessa gente e do frio que estão sentir. Vai-se embora a onda de frio e tudo volta à normalidade, a uma estranha e intolerável normalidade.
Os do costume e novos do costume que os tempos difíceis vão produzindo, continuarão a sentir a falta de calor até que o frio volte.

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