sábado, 4 de fevereiro de 2012

O CARNAVAL ANTES DO CARNAVAL

Sem estranheza face ao seu entendimento sobre as questões laborais, o Governo decidiu não conceder a habitual tolerância de ponto no Carnaval com a habitual justificação da produtividade que suporta também a abolição de quatro feriados. De novo algumas notas sobre esta matéria que me parece contaminada por alguns equívocos, sobretudo na ligação estabelecida com a produtividade, cujo incremento é necessário. Assim, retomo algumas notas.
Já aqui afirmei a este propósito que tenho a convicção de que o problema da produtividade é, fundamentalmente uma questão de melhor trabalho e não de mais trabalho. Aliás, algumas opiniões ouvem-se neste sentido e podemos reparar o que se passa noutros países com cargas de horário laboral semelhantes à nossa. Há semanas um relatório divulgado na imprensa permitiu constatar que no universo na União Europeia e, contrariamente a alguns entendimentos, a duração do trabalho em Portugal é a terceira mais elevada da Europa, repito, a terceira mais elevada da Europa, embora a competitividade e produtividade sejam das mais baixas.
Parece assim claro que a produtividade não decorre fundamentalmente do tempo de trabalho. Existem, tenho-o afirmado, factores menos considerados e que do meu ponto de vista desempenham um papel fundamental, a qualificação profissional, a organização do trabalho, a qualidade dos modelos de organização e funcionamento, no fundo, a qualidade das lideranças nos contextos profissionais. O nível de desperdício no esforço, nos meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente elevado. O relatório a que refiro sublinhava isso mesmo.
Relembro que os empregadores portugueses, sobretudo nas médias, pequenas e micro empresas, as que asseguram a grande fatia dos postos de trabalho, possuem um baixíssimo nível de qualificação em termos europeus, excepção feita, evidentemente, a alguns nichos.
Neste cenário, a decisão de aumentar o horário de trabalho, com redução de feriados, dias de férias ou a ausência de tolerância de ponto no Carnaval, não parecem ser, só por si, as soluções milagrosas de incremento da produtividade.
Parece-me bem mais potente um esforço concertado e consistente de apoio à modernização e formação dos empregadores e quadros do tecido empresarial do que baixar custos do trabalho pelo recurso simplista e “fácil” ao aumento da carga horária.

1 comentário:

Boboquinha disse...

Concordo e parece-me lógico que se trata de qualidade e não de quantidade.

Quando comecei a trabalhar o que mais me fazia confusão era a falta de produtividade.

Fui ensinada a funcionar como uma máquina, por assim dizer. Não deixo de estar presente mas quando entro para trabalhar até me aborrecia que me desviassem o que estava a fazer com conversas.

Sinto que pertenço mais um um modelo estrangeiro de trabalho. Imaginava-me num desses países, e interrogava-me se me saia melhor.

Trabalhar mais não costuma trazer reconhecimento, o que é curioso.Tenho o péssimo hábito de não gostar de fazer nem aquelas pausas necessárias. É tudo seguido...

Mas sim, isto infelizmente não vai levar a NADA. O governo quer uma solução? É SIMPLES:

ENVIEM UMA EQUIPA QUALIFICADA, uma TROIKA EMPRESARIAL para que cada empresário possa recorrer ao mesmo recurso que o governo. CONSULTAR UM ESPECIALISTA que lhe vai dizer formas de aumentar o rendimento da empresa.

Antes destas mudanças deixem-me dizer que já trabalhava nestes parãmetros. E de nada adianta. Não tinha 13º, não tinha mais do que uma pálida semana de férias por ano, trabalhava 9 horas por dia no mínimo

E a empresa deitava por baixo 60% do meu esforço porque não estava estruturada. Por isso se faziam horas a mais, porque era tudo caótico!

O problema não vai ficar resolvido assim. Não é sequer preciso ter estudos para o perceber.

As empresas têm de ter um bom GESTOR que saiba por tudo a dar RENTABILIDADE. Os funcionários depois encaixam-se bem no processo. Não devem ser tiranos como alguns já o são, mas é o caminho. E claro, o trabalhador deve ser bem REMUNERADO e não reduzirem-lhe ainda mais o salário.