No Público encontramos algo de muito interessante e que constitui um exemplo significativo do clima que se instalou nas escolas reflectindo, evidentemente, o clima social dos tempos que vivemos. Uma empresa do Porto criou um curso de defesa pessoal para professores e noticia-se a primeira edição, estando previstas novas acções e extensivas a outros destinatários.
Apesar de com alguma frequência aqui referir esta questão, a violência escolar, não posso deixar de retomar algumas notas.
Os comportamentos agressivos em contexto escolar são tão antigos quanto a instituição escola, sendo certo que os estudos destes fenómenos são mais recentes e também mais objecto de referências fora dos contextos educativos dado o volume e a gravidade de algumas situações, bem como a divulgação dos estudos e a fortíssima mediatização dos episódios ocorridos.
Centrando-me mais nos comportamentos agressivos direccionados a professores, de há muito que considero que os discursos, quando não os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores incluindo parte do discurso de responsáveis da tutela, algum do discurso produzido pelos próprios representantes dos professores e também o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para uma desvalorização significativa da imagem social dos professores, fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa, designadamente de alunos e pais.
Esta fragilização, para além das alterações nos modelos que regulas as interacções sociais, tem, do meu ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com alunos e pais, sobretudo porque mina a atribuição de autoridade cuja reconstrução não passará, creio, pelo domínio de artes marciais ou, porque não, o uso de arma.
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto mais competente e apoiado se sentir. É também importante reajustar a formação de professores. As escolas de formação de professores não podem “ensinar” só o que sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos novos professores e pelos professores em serviço. Problemas "novos" carecem também de abordagens "novas".
As escolas devem poder usar a sua autonomia para desenvolver dispositivos de apoio, por exemplo, a existência de outros técnicos e a utilização regular de dois professores em sala de aula. Não é necessário aumentar o número de professores, é imprescindível que os recursos sejam geridos de outra maneira.
Escolas organizadas, com cultura institucional sólida traduzida na adequação e consistência dos seus projectos educativos e com lideranças eficazes são mais organizadoras dos comportamentos de quem nelas habita, como qualquer outra organização.
Os discursos demagógicos e populistas, ainda que bem intencionados, não são um bom serviço à minimização destes incidentes que minam a qualidade cívica da nossa vida.
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