O processo trágico do desaparecimento do Rui Pedro, ocorrido há 13 anos, na altura a criança tinha 11 anos, vai dar hoje mais um passo. Será conhecida a sentença do arguido acusado do rapto da criança e que reclama inocência.
Independentemente da sentença, e de terminar por aqui, ou não, o processo criminal, a tragédia não tem fim, a criança continua desaparecida. Não sendo a primeira vez que o faço, retomo algumas notas dirigidas às experiências pelas quais, lamentavelmente, muitos miúdos passam ou estão em risco de passar.
Tem sido feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta natureza bem como, a maior atenção aos factores de risco de que a título de exemplo se cita a net e as redes sociais que não podendo, obviamente, ser diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.
Embora se saiba que muitos dos casos reportados de desaparecimento de crianças e adolescentes acabem por ter, por assim dizer, um final feliz, o desaparecimento é temporário, reactivo a incidentes ou a resultados escolares alguns transformam-se em tragédias sem fim como o caso do Rui Pedro desaparecido há 13 anos.
Uma situação desta natureza é uma tragédia absolutamente devastadora numa família. Nós pais, não estamos "programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar a situação é de uma violência inimaginável.
No entanto e neste contexto, creio que vale a pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas à vista, situações que por desatenção e menos carga dramática passam mais despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens que vivem à beira de pais e professores para os quais passam completamente despercebidas, são as que eu chamo de crianças transparentes, olhamos para elas, através delas, como se não existissem. Não estando desaparecidas, estão abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou adrenalina de quem nada tem para perder.
Em boa parte das situações, por estes ninguém procura.
E eles perdem-se de vez.
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