sábado, 18 de dezembro de 2010

O DESPERDÍCIO

No âmbito da crise entraram no vocabulário quotidiano termos como cortes e poupança, por um lado, e despesismo e desperdício por outro.
Do meu ponto de vista, muitas das Medidas tomadas e a forma como são divulgadas, misturam e alimentam equívocos em torno de questões de natureza diferente.
De facto, baixar salários é um corte que poupa dinheiro mas não é uma poupança. Poupança é, por exemplo, um acto de gestão pessoal ou institucional que procura manter ou adquirir um bem ou um serviço em condições mais favoráveis e com menos custo.
Por outro lado, despesismo e desperdício, são actos de má gestão individual ou institucional, ao serviço muitas vezes de interesses pouco claros, que deveriam ser combatidos e, se for o caso, punidos.
Neste cenário de crise, as medidas de natureza política não podem, não devem, meter no mesmo saco, cortes nos salários ou nos apoios sociais, poupanças nas compras de bens para a administração ou alterações na organização administrativa, por exemplo.
Insisto particularmente na questão do desperdício que é um dos mais gigantescos sugadouros de recursos, praticamente um poço sem fundo. O desperdício de que estou a falar está para além dos recursos financeiros e do melhor aproveitamento de recursos materiais. Estou a falar por exemplo de tempo, um bem de primeira necessidade, que se desperdiça em inutilidades, por má gestão ou organização, que se dedica a discussões estéreis e ruidosas seja em reuniões improdutivas ou em debates inconclusivos por incompetência, demagogia ou intenção.
Estou a falar do desperdício de competências e de pessoas que, por falta de oportunidade ou de políticas ajustadas, públicas ou privadas, são completamente subaproveitadas.
Lembro-me também de algo a que costumo chamar de “agitação improdutiva” que envolve muitíssimas situações de pessoas que aos mais diversos níveis e em diferentes circunstâncias se empenham, se esforçam, mas com baixos níveis de qualidade e rentabilidade por má gestão ou organização penalizadora das pessoas e das instituições.
Enfim, são múltiplos os exemplos de desperdício e são ainda mais e mais graves as consequências desta espécie de cultura instalada.
No entanto, é quase imoral que uma administração que se defronta com tal nível de desperdício e ineficácia faça cair sobre os cidadãos o preço da sua incompetência.
Quando era mais miúdo e sempre que estragava ou não aproveitava devidamente qualquer coisa, ouvia logo dos meus pais, “pensas que és rico”.
Eles não sabiam, mas nesta coisa de impostos e administração pública, os países mais ricos são os que menos desperdiçam.

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