Desde há muito que, designadamente nas ciências da saúde e do comportamento, é conhecido o efeito placebo, ou seja, as pessoas sentirem-se melhor quando tomam um medicamento que não tem qualquer efeito terapêutico, sendo, nas mais das vezes, apenas um comprimido de açúcar. Muitos estudos suportam este efeito que, também desde sempre, tem levantado algumas reservas do ponto de vista ético pois, formalmente, está a enganar-se um indivíduo dando-lhe um "medicamento" que se sabe não ter efeito pelas suas características, devendo-se as eventuais melhorias à convicção das pessoas na "terapêutica" que estão a seguir. Actualmente, desenvolvem-se estudos que promovam a utilização do efeito placebo num quadro que não signifique "enganar" o doente, ou seja, avisando-o das características inócuas do medicamento mas esperando que o efeito se mantenha.
Se bem repararem no nosso cenário político, boas parte da nossa classe dirigente parece confiar no efeito placebo. Tomam medidas incompreensíveis, com pouco impacto na melhoria do bem-estar das pessoas e esperam que nós, só porque fomos informados das medidas, comecemos a sentir-nos melhores.
Reparem no caso do salário mínimo. No centro de uma profunda crise económica e na véspera de aumentos generalizados em sede de Concertação Social, Governo, Associações empresariais e a UGT acordam num aumento de 10 euros mensais em Janeiro, cerca de 33 cêntimos por dia, situação que se aplica a mais de meio milhão de portugueses. Em seguida toda a gente se congratula com o acordo e com a melhoria nas condições de vida das pessoas que vivem com tal montante.
Tais discursos, só mesmo acreditando no efeito placebo. Dizem-nos que o salário sobe, e nós, por convicção, passamos a viver com menos dificuldades.
Só que nesta matéria não existe efeito placebo, as pessoas bem gostavam de acreditar nas medidas, nos discursos, nas intenções e sentir-se melhor. Mas a realidade não é, par ninguém, a projecção dos nossos desejos.
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