domingo, 19 de dezembro de 2010

O FRIO DA INFÂNCIA

Nos tempos que percorremos, em que se envolvem o espírito natalício e sucessivos alertas coloridos por causa do frio, da falta de preparação das nossas casas e das dificuldades económias de muita gente para suportar os custos do aquecimento, lembrei-me de uma nota do muito interessante “O mundo” de Juan José Millás que assim fala, “Quem teve frio em pequeno, terá frio para o resto da vida, porque o frio da infância nunca desaparece”.
Creio que existem muitos miúdos que passarão algum frio e nem sempre conseguimos dar por isso. Acontece até que alguns deles sentem frio em ambientes muito aquecidos. É o frio que vem de fora, aquele de que falam os alertas coloridos, é o frio que está à beira, um bloco de gelo disfarçado de família ou de instituição de acolhimento e é o frio que vem de dentro e deixa a alma congelada. Do frio de fora, apesar de incomodar, acho que nos conseguimos proteger e proteger os miúdos, mas dos frios que estão à beira e dos que vêm de dentro nem sempre o conseguimos porque também nem sempre entendemos e estamos atentos ao frio que os miúdos passam.
Apesar de sentir confiança na resiliência dos miúdos expressa em muitíssimas situações de gente que sofreu e resistiu a experiências dramáticas, uns mais que outros naturalmente, parece-me fundamental que estejamos atentos aos frios da infância.
Muitas vezes, como diz Millás, quem teve frio em pequeno terá mesmo frio no resto da vida. Quando olhamos para muitos adultos à nossa volta parece claro o frio que terão passado na infância.

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