Dados hoje divulgados pelo Eurobarómetro citados no Público evidenciam que nós portugueses não acreditamos na ascensão social, somos dos mais pessimistas e apontamos fundamentalmente as origens familiares e a falta de apoios como causas da pobreza. Na União Europeia a percepção média das causas de pobreza remete ara a falta de qualificações. Sobre estas questões algumas notas respigadas de textos anteriores e centradas sobretudo na questão da ascensão social, ou seja, a quebra do ciclo de tal pai, tal filho.
Desde sempre que os estudos, designadamente no âmbito da sociologia da educação, associam a carreira escolar e o estatuto profissional dos filhos ao nível de escolaridade e estatuto económico dos pais. Também sabemos que isto é tanto mais evidente quanto maiores são os níveis de desigualdade. Em Portugal verifica-se um dos maiores fossos entre ricos e pobres da União Europeia pelo que a relação entre os níveis escolar e salarial dos pais e os dos filhos é ainda mais forte o que relatórios da OCDE confirmam. O nível de escolaridade média dos portugueses é o segundo mais baixo da OCDE, apenas a Turquia está pior, situação que em 1960 já se verificava, ou seja, aumentámos o nível de escolaridade mas menos que todos os outros países, à excepção da Turquia. Os dados sublinham a incapacidade da escola de promover mobilidade social, ou seja, o nível de escolaridade dos pais marca de forma excessiva o nível atingido pelos filhos. A situação sempre assim foi, ainda me lembro de quando era pequeno, haver quem se admirasse dos meus pais, um serralheiro e uma costureira, terem decidido que eu continuaria a estudar. Tal constatação que, insisto, todos conhecemos, não autoriza, portanto, o discurso irresponsável e ignorante, mas muitas vezes tolerado sem discussão na comunicação social, de que vivemos num país de doutores. Não, definitivamente, vivemos num dos países do mundo desenvolvido com uma das mais baixas taxas de escolarização.
Deste quadro, resulta uma complexa situação que poderemos de forma simplista colocar nestes termos, a escola ao acabar por reproduzir a desigualdade social à entrada, compromete o papel fundamental que lhe cabe na promoção da mobilidade social, a ascensão, ou seja, a escola que deveria ser parte da solução, na prática, corre o risco de continuar a ser parte do problema. No entanto e apesar disto, creio que muito poderá e deverá ser feito no sentido da promoção efectiva da chamada e distante igualdade de oportunidades.
Do meu ponto de vista, muitas vezes aqui afirmado, a questão central é a qualidade na escola pública. Esta qualidade deverá assentar em três eixos fundamentais, a qualidade considerando resultados, processos e gestão optimizada de recursos, segundo eixo, qualidade para todos, a melhor forma de combater os mecanismos de exclusão e a desigualdade de entrada e, terceiro eixo, diversificação dos percursos de educação e formação. Esta diversificação deve passar, e temos registado progressos nesta área, por uma oferta bastante mais variada ao nível do secundário possibilitando a muitas jovens completar este nível de ensino com competências profissionais, isto é que é fundamental. Também ao nível do ensino superior, com o trabalho no âmbito do ensino politécnico se criam condições para processos de qualificação mais curtos e mais diversificados.
Não é certamente por acaso, que na generalidade dos países da União Europeia a percepção média das causas de pobreza radica na falta de qualificação, enquanto entre nós essas causas se percepcionam centradas no estatuto social da família.
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