Há muitos anos atrás, andava eu a começar a ser gente em termos profissionais e estava de conversa com a mãe do Luís. O Luís tinha na altura os seus cinco anos e era uma criança com Síndrome de Down.
No meio da conversa, a mãe do Luís refere que ele nos últimos dias só queria brincar aos forninhos, não deixava ninguém sossegado, sempre de volta das pessoas da casa que eram muitas, mais do que seria desejável para a dimensão da casa.
Sempre achei e acho que brincar é uma actividade extremamente séria, importante para toda a gente e imprescindível aos miúdos. Assim, achei por bem tecer algumas considerações sobre a importância de brincar e a colaboração das pessoas da casa nas brincadeiras com o Luís.
Aí a mãe põe um ar mais sério e algo embaraçada diz que é um bocado aborrecido esta ideia do Luís de brincar aos forninhos, que as pessoas ficam muito chateadas com ele e ela até fica um bocadinho envergonhada. Explicou-me a seguir que como a casa é muito pequena e existem alguns casais lá a viver, o Luís acaba por ver as cenas entre esses casais e depois quer imitá-los, ou seja, brincar aos forninhos.
Devo confessar que foi a minha vez de ficar embaraçado. Acabei por me rir para dentro a imaginar o Luís do alto dos seus quatro anos a assediar irmãs e cunhadas.
Este foi só um dos primeiros dos muitos equívocos que vim a descobrir, e descubro, na comunicação entre os pais e as instituições educativas.
Não foi dos mais graves.
Sem comentários:
Enviar um comentário