quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

10 000 CERTIFICAÇÕES NÃO É O MESMO QUE 10 000 QUALIFICAÇÕES

Não tinha intenção de voltar ao tema "Novas Oportunidades" mas é impossível resistir. Inscreveram-se no Programa 1 milhão e 489 000 portugueses e certificaram-se 456 000, a Ministra da Educação afirmou no 4º Encontro Nacional dos Centros Novas Oportunidades que "isto corresponde a uma média de 10 000 certificações por mês, o que é muito". Eu também acho e por isso, mais uma vez, algumas notas respigadas de textos anteriores.
Estamos todos de acordo que um dos nossos principais problemas e, portanto, um dos principais desafios que como país enfrentamos, é o da qualificação dos nossos cidadãos. Já aqui me tenho referido a esta questão e à importância transcendente que ele assume em termos de futuro viável para Portugal. Recorrentemente são disponibilizados números pelas diferentes agências internacionais que sublinham esta questão.
Dito isto, parece obviamente importante que sejam desenvolvidos os dispositivos adequados à qualificação das pessoas. É neste contexto que apareceu o inevitável Programa Novas Oportunidades, sobre o qual afirmei no início "O lançamento de um Programa com o objectivo de estruturar e incrementar os processos de qualificação de sujeitos que abandonaram o sistema é, obviamente de saudar. Parece-me também de sublinhar o interesse e significado que o Reconhecimento e Validação de Competências, a génese do Novas Oportunidades, pode assumir para pessoas com largo trajecto profissional, sem certificação escolar, mas que tiveram acesso a um processo de reconhecimento de competências profissionais entretanto adquiridas e a aquisição de equivalências aos processos de escolarização formal".
No entanto, o desenvolvimento posterior do Programa e as sucessivas intervenções os responsáveis do Programa rapidamente evidenciaram, e evidenciam, o enorme equívoco, ou melhor, embuste, de confundir qualificação com certificação, ou seja, é possível passar milhares de certificados de 9º e 12º anos em pouco tempo mas é, obviamente, impossível qualificar milhares de pessoas em pouco tempo. É neste quadro que se tem desenvolvido o Programa e que é bem conhecido por parte de quem acompanha os Centros Novas Oportunidades onde, pese o esforço e dedicação de muitos técnicos, se verifica uma enorme pressão para que se "produzam" certificados. O Professor Capucha e o Comissário Lemos bem podem afirmar o contrário mas o contacto com os profissionais envolvidos pode ser elucidativo. Alguém entende e aceita que quando a Ministra afirma que se fazem 10 000 certificações por mês, possamos estar a falar da qualificação de 10 000 pessoas por mês?
No que respeita à avaliação e aos seus resultados referidos no Público pelo Comissário Lemos, parece-me que estamos perante um novo equívoco. É óbvio que as pessoas envolvidas terão de expressar uma opinião genericamente positiva, acedem a diplomas que lhes certificam competências, acedem a algumas experiências e competências, a equipamentos informáticos, etc. Parece-me aliás, estranho que apenas um terço revelem que o Programa teve pelo menos um aspecto positivo. A questão é a qualificação que efectivamente recebem, sublinho, qualificação e sobre isso a avaliação não incide. Gostava de poder afirmar que as muitas histórias e exemplos que se conhecem sobre todo este processo fossem irrelevâncias residuais. O problema é que todos nós sabemos que não são, apesar dos esforços e empenhamento, repito, dos técnicos envolvidos nos Centros Novas Oportunidades.
Voltando ao início, o aumento exponencial de pessoas com certificados seria uma boa notícia, se todo este processo não estivesse inquinado por um fingimento que embaraça.

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