Hoje de manhã, por algum excesso de cautela que a idade promove, assustado com o anunciado vento que na Ponte 25 de Abril é má companhia para quem anda de moto, resolvi-me pelo comboio e metro, uma experiência sempre fascinante.
Provavelmente porque ainda era bastante cedo, uma boa parte dos passageiros, dorme. Bom, digo que dorme mas não tenho a certeza se se trata de sono porque a maioria permanece de olhos abertos. Fica um quadro estranho, uma quantidade pessoas muito juntas, sentadas e em pé, com um ar completamente ausente, de quem verdadeiramente não está ali, uma espécie de comboio deserto cheio de gente.
Alguns, poucos, mais novos escondem-se dentro de uns fones e alguns outros, também poucos, já despertaram para a rede social e já se encostam ao telemóvel ou freneticamente enviam mensagens. Olhando para a carruagem onde seguia não consegui vislumbrar ninguém que estivesse a falar com o parceiro do lado.
Às tantas comecei a pensar que dia aguarda aquelas pessoas, será que conseguirão despertar e assumir vida que lhes permita, pelo menos, afirmar, isso mesmo, que viveram mais um dia? Ou, quando apanharem o comboio de volta darão graças por mais um dia de sobrevivência e cumprirão o calendário da depressão de que falava Miguel Esteves Cardoso num texto notável no velho Independente.
Definitivamente, prefiro a mota, também vou só mas o vento na cara faz-me sentir mais vivo.
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