Não sei o que se passava convosco, na minha vida escolar de miúdo, portanto há muitos anos, existia um momento que, ciclicamente, me criava uma sensação entre o receio e a esperança excitada. Esse momento desencadeava-se quando o meu pai inquiria, “já foste ver as notas?”. Como é óbvio, ainda não sabíamos que a net iria ser inventada uns anos mais tarde, pelo que se tratava de ir à escola, procurar a vitrina certa e …ver as notas. Para mim, aluno que me escondia num discreto e económico intervalo entre o 8 e o 12, passando, sempre que podia, “cortado” a alguma disciplina não era, de facto, um momento fácil como assistir às aulas, portar-me mal ou, até, fazer testes, o que sabia, fazia, o que não sabia, não chegava a ser uma preocupação. Ver as notas era, assim, algo que produzia alguma ansiedade, felizmente apenas se verificava três vezes por ano.
Por um lado, ia com receio de que se confirmassem as negativas que os meus resultados e os injustos e pouco generosos “setores” antecipavam. Muitas vezes confirmavam-se, o que me transportava para o passo seguinte, a “trepa” do meu pai. Esta parte da conversa acabava numa sempre renovada promessa de mais esforço e atenção nas aulas em que o meu pai, é para isso que servem os pais, acreditava, eu acho que ele acreditava mesmo. Era um homem bom e eu, passe a imodéstia, era convincente.
Por outro lado, ia com esperança de que as positivas correspondessem às minhas contas, sempre inflacionadas. Como sabem, a gente nova é optimista, é certo que há quem lhe chame irresponsabilidade e inconsciência. Mas sempre havia umas positivas que, no resto da conversa com o meu pai, depois de “ver as notas”, eu esticava no valor e na importância tentando mascarar as negativas. O meu pai, é para isso que servem os pais, lá mostrava um contentamento no qual, era a minha vez, eu acreditava.
Esta conversa vem do facto de ontem ao passar em frente de uma escola aqui da zona, ter visto pai e filho, pareciam, sair de um carro e ouvir o pai, enquanto puxava de um cigarro, “vai lá ver as notas”.
Apeteceu-me voltar a ir “ver as notas” e, a seguir, ter a conversa do costume com o meu pai.
Por um lado, ia com receio de que se confirmassem as negativas que os meus resultados e os injustos e pouco generosos “setores” antecipavam. Muitas vezes confirmavam-se, o que me transportava para o passo seguinte, a “trepa” do meu pai. Esta parte da conversa acabava numa sempre renovada promessa de mais esforço e atenção nas aulas em que o meu pai, é para isso que servem os pais, acreditava, eu acho que ele acreditava mesmo. Era um homem bom e eu, passe a imodéstia, era convincente.
Por outro lado, ia com esperança de que as positivas correspondessem às minhas contas, sempre inflacionadas. Como sabem, a gente nova é optimista, é certo que há quem lhe chame irresponsabilidade e inconsciência. Mas sempre havia umas positivas que, no resto da conversa com o meu pai, depois de “ver as notas”, eu esticava no valor e na importância tentando mascarar as negativas. O meu pai, é para isso que servem os pais, lá mostrava um contentamento no qual, era a minha vez, eu acreditava.
Esta conversa vem do facto de ontem ao passar em frente de uma escola aqui da zona, ter visto pai e filho, pareciam, sair de um carro e ouvir o pai, enquanto puxava de um cigarro, “vai lá ver as notas”.
Apeteceu-me voltar a ir “ver as notas” e, a seguir, ter a conversa do costume com o meu pai.
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