quinta-feira, 16 de abril de 2009

CANTA COM AQUILO QUE ÉS, SÓ PODES DAR O QUE É TEU

Um dia destes a Maria entrou na biblioteca da escola e sentou-se. A Maria é uma professora ainda novinha que está pela primeira vez naquela escola. O ar cansado e, parecia, ausente da Maria chamou a atenção do Professor Velho, aquele que já não dá aulas, está na biblioteca e fala com os livros.
Olá Maria, passa-se alguma coisa?
Olá Velho, estou cansada e sem saber muito bem o que fazer. Tenho um grupo de alunos que é um pedaço agitado, nada de particularmente grave mas torna-se difícil controlá-los. Tinham-me avisado que eles eram assim. De início procurei apresentar o ar mais sério que conseguia, mas o Zé, tu conheces, diz umas coisas, que eu não conseguia ficar sem me rir, lá se foi o ar sério. Depois, experimentei aproximar-me, informei-me sobre os gostos deles e comecei a querer parecer assim uma espécie de companheira. Não correu bem, quase que me tratavam como a um deles. Já não sei que experimentar.
Sabes Maria, quando a gente está a começar ainda não nos conhecemos muito bem, ainda não encontrámos o nosso jeito, o que nos dá um bocadinho de insegurança. Então somos tentados a construir uma personagem, uma “autoritária” ou “setora porreira” por exemplo, que não somos nós. A questão é que os alunos percebem lindamente que não somos nós. Existe um fado, o Fado Tristeza, do José Mário Branco, que diz “canta com aquilo que és, só podes dar o que é teu”. É isso que tens de tentar. Perceber o que é teu e falar, dar, isso. Vais ver que os miúdos percebem quando fores tu, a sério. Eles não gostam que os enganem.

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