quarta-feira, 22 de abril de 2009

NA MINHA TERRA

A propósito do Dia da Terra estava a pensar que uma das expressões que mais gosto de utilizar e ouvir é “na minha terra”. Não sei bem explicar porquê mas acho que remete para a ideia de origem, vim dali, foi lá que começou, é lá que pertenço e de, como dizem os brasileiros, de aconchego, de ninho. Creio que já uma vez aqui falei disso mas, sendo um suburbano de nascença, muitos colegas de escola nas férias iam à terra, eu não tinha terra para ir, e gostava de poder dizer “na minha terra”. Passados muitos anos consegui arranjar uma terra, a minha terra. É, como sabem, o meu Alentejo. Finalmente, embora já não possa dizer aos meus colegas de escola que também vou à terra, sempre que posso.
Mas andam a estragar a minha terra, retalham-na, secam-na, vendem-na a quem dela não gosta, que a espreme e a abandona. Enchem-na de rotundas e outras modernices. Quando na minha terra, o mar está perto, até se sente a terra a tremer como medo do que lhe vão fazer. Na minha terra, cada vez mais só ficam os velhos, tão abandonados como a terra. Quando a gente cuida da terra, a terra cuida da gente, mas a terra anda descuidada.
Cada vez haverá menos gente a poder dizer “na minha terra” e um dia a terra poderá dizer, “quando cá havia gente”.

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