segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

UM PAÍS DE TROCA-TINTAS

Nos meus temos de gaiato, a avó Leonor, uma das mulheres mais fantásticas que conheci, com a mais-valia de ser minha, a minha avó, quando nós caíamos em alguma asneira e tentávamos as esfarrapadas desculpas que a imaginação, ou a falta dela, ditavam ou ainda, quando as pequenas mentiras não saíam bem, tentava compor um ar severo, desmentido por uns olhos claros infinitamente doces, e dizia, “não sejam troca-tintas”.
Não me lembro se alguma vez lhe perguntei se sabia a origem da expressão, mas hoje lembrei-me delas, da avó Leonor e dos troca-tintas. Um dia cabaneiro como se diz no meu Alentejo, de chuva e de frio, bom para estar ao lume na “cabana”, deu tempo para olhar para imprensa até terminar na intervenção dominical do entertainer político Marcelo Rebelo de Sousa, mais conhecido pelo Professor. Já tinha passado pelas declarações do Engenheiro sobre o país e a excelência e infalibilidade do trabalho do Governo, dos comentários sobre a discussão do OGE, da Ministra mais o famoso Modelo, dos sindicatos mais o famoso Modelo, do Dr. Dias Loureiro e das relações com o BPN, das declarações sobre os apoios aos bancos, das declarações de administradores, gestores e outros “arrebentadores”, de toda a gente que sempre que fala, diz uma coisa diferente, ou das declarações que contradizem a realidade como se fôssemos incapazes de olhar à nossa volta, das declarações em nome do interesse de todos que escondem feios jogos de poder para alguns, até acabar nos esclarecimentos do Professor, desdizendo hoje o que toda a gente ouviu a semana passada.
País de troca-tintas, como diria a avó Leonor.

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