terça-feira, 9 de dezembro de 2008

SE NÃO FOSSEM OS POBREZINHOS, PODIAS TER MAIS

Provavelmente devido ao seu entendimento de serviço público, a RTP1, a propósito da quadra natalícia, ofereceu-nos um retrato, anunciado como exemplo a seguir, de uma família com três criancinhas em que estas, sobretudo as duas mais velhas, seguramente abaixo dos dez anos, já eram sensíveis aos custos dos seus desejos na hora dos presentes. Uma interessante abordagem às compras sem recurso ao crédito, dispositivo tão em voga e, por vezes, com mau resultado.
Pois as criancinhas lá nos foram explicando que quando querem algo mais caro, às vezes não dizem aos pais, para que eles não digam que não ou para que não tenham de gastar muito dinheiro. Uma das crianças até referiu que procura uma alternativa mais barata. É bonito e é positivo ajudar as crianças a perceber que os presentes têm custos mesmo para um Pai no Natal, que, como sabeis, é o Pai Natal.
O que me entusiasmou foi a Mãe no Natal, a mulher do Pai no Natal, ensinar-nos que explicava aos filhos que não se deve querer muitas coisas porque há meninos, os pobrezinhos creio eu, porque a senhora não disse, que têm muito pouco, nem 10%, acrescentou num esforço de rigor que também apreciei. Acho notável este recorrente discurso de que os meninos não devem querer muitas coisas porque há meninos que não têm. Dito de outra maneira, quando as senhoras da Junta de Freguesia ou da Paróquia dão um brinquedo aos pobrezinhos do meu bairro, os meus filhos já podem querer uma lista infinita de presentes.
Não, o que os meninos devem ser ajudados a perceber é que brinquedos a mais não fazem falta, comer demais faz mal, que ter muito não é igual a ser muito, que dar muito nem sempre é igual a gostar muito, etc. e que é justo que toda a gente tenha, no mínimo o suficiente, sendo que todos poderemos contribuir para isso. Tudo isto, sem culpa nem moralismo.
Trata-se, no fundo, de uma educação para os valores e não de uma educação para a santidade.

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