terça-feira, 23 de dezembro de 2008

OS DESCARTÁVEIS MESTRES E DOUTORES

Com algum atraso, uma pequena nota sobre uma notícia que merece alguma reflexão. Segundo dados do INE e do seu congénere espanhol, Portugal, em 2006 tinha, proporcionalmente, mais detentores do grau de mestre e doutor que a Espanha, 61 por cada 100 000 habitantes em Portugal e 16 por 100 000 em Espanha. Devido ao chamado processo de Bolonha, estes números vão ter que ser repensados na medida em que a formação universitária de cinco anos passou, genericamente a conferir o grau de mestre e não o de licenciatura.
Mas mais do que nos números disponibilizados, simpáticos numa primeira leitura, importa pensar o que é que o país faz com estes mestres e doutores. O subaproveitamento desta franja altamente qualificada, muitos com o apoio de bolsas com fundos públicos, é quase escandaloso. Um número significativo vai passando de projecto em projecto sem perspectivas de carreira, sem vínculos profissionais minimamente estáveis e facilitadores de projectos de vida. Muitas empresas, sobretudo as de média e maior dimensão, provavelmente devido ao baixo nível de qualificação dos empresários (um dos mais baixos da UE), também não valorizam a contratação de recursos humanos tão qualificados. O quadro fica assim menos animador do que quando apenas se refere o número de mestres e doutores comparativamente a Espanha.
A grande questão é que, disso ninguém parece ter dúvidas, o futuro dos países em mercados hiper-competitivos e globalizados, depende em grande medida, do nível da excelência na qualificação das pessoas e no investimento em I&D. Nós, para não variar, como somos ricos, não aproveitamos.

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