segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O MEU AMIGO PROCURANTE

Um dos meus amigos é um tipo bem peculiar. Há muito que lhe chamamos o Procurante. Perguntarão o porquê de tão insólito chamamento. Deve-se ao facto do meu amigo fazer da sua vida uma procura. É o tipo mais inquieto que conheço e a sua permanente procura deve-se a esse desassossego. O Procurante anda atrás daquele livro que ainda não leu e que será o mais interessante, antes de procurar o próximo ainda mais interessante. O Procurante busca o filme que, de tão estimulante, o deixe à procura de outro que justifique ainda mais a sua atenção.
O meu amigo Procurante trabalha e creio que emprego é a única coisa que deixou de procurar, escreve, sobrevive da escrita e de algumas traduções mal pagas. Ainda assim, embora não procure outro emprego o Procurante continua a tentar escrever o livro que venha a ser O seu livro.
O Procurante ainda não encontrou numa só mulher tudo o que procura nas mulheres e, por isso, continua à procura.
Em múltiplas viagens e mudanças, o Procurante tem tentado encontrar o seu mundo em muitos cantos, mas ainda procura o seu canto no mundo. Quando nos encontramos para uns copos e umas discussões acesas, a palavra que o Procurante mais usa é “porquê”. Ri-se sempre que um de nós propõe uma qualquer resposta para um dos seus porquês e, sem percebermos se ri de nós ou para nós, pergunta porquê, sem fim.
Quando penso no Procurante fico na dúvida. Será o Procurante o mais infeliz de nós porque nunca encontra ou, pelo contrário, o mais feliz porque ainda procura, sempre.

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