quarta-feira, 25 de outubro de 2017

OS ACTUAIS ALUNOS, FUTUROS PROFESSORES

Na Universidade do Algarve realiza-se hoje uma Conferência, “Porque melhoraram os resultados dos alunos portugueses?", com a participação de Isabel Flores do Projecto aQueduto - Avaliação, Qualidade e Equidade em Educação - uma parceria entre o CNE e a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Ao que se lê no I será abordada uma questão que me parece interessante.
Com base nos dados do PISA de 2015 apenas 1.5% dos alunos de 15 anos envolvidos no estudo encara a possibilidade de ser professor apesar de boa parte dos alunos valorizarem positivamente os professores. Recordo que nos dados do PISA de 2012 e no conjunto dos vários países, a maioria dos alunos é da opinião de que os professores os ajudam. Portugal e Finlândia lideram a satisfação com a ajuda prestada pelo corpo docente (83% e 85%, respectivamente).
Na comparação entre os dois países, na Finlândia cerca de 3% admite poder ser professor. O dado curioso é que em Portugal os alunos que admitem vir a ser professores têm resultados abaixo da média em Matemática enquanto na Finlândia têm resultados acima da média.
Dito de outra maneira e de forma simples, os alunos de uma forma bem clara valorizam os professores mas apenas os alunos com menor desempenho médio a Matemática (critério PISA) admitem vir a ser professores.
Uma primeira nota para sublinhar a prudência necessária na interpretação destes dados e na definição de eventuais consequências na qualidade dos trajectos futuros, a relação entre o perfil de desempenho de uma aluno de 15 anos e o seu potencial desempenho futuro como professor deve ser vista com extrema reserva. No entanto, creio que podemos dizer algo que me parece merecer alguma reflexão.
A este quadro talvez não seja alheio alguns discursos produzidos sobre os professores que desvalorizam e empobrecem o seu estatuto social e a representação sobre a classe e que são produzidos, por exemplo, por “opinion makers” que frequentemente têm agendas implícitas e quase sempre estão mal informados.
Talvez não seja alheia a instabilidade nas políticas educativas com impacto óbvio na estabilidade das carreiras e da sua valorização. Provavelmente em muitas famílias, as que mais probabilidades terão de ter filhos com melhor desempenho escolar, a profissão professor não é uma escolha incentivada ou, no mínimo, bem aceite.
Também alguns discursos vindos dos próprios representantes dos professores podem muitas vezes contribuir para equívocos e representações desajustadas sobre os professores e os seus problemas.
Deste cenário resulta como tantas vezes tenho afirmado a necessidade da valorização dos docentes e da sua profissão de modo a que se torne mais atractiva. Relembro que o envelhecimento muito significativo da classe colocará muito rapidamente a necessidade de mais docentes.

Sem comentários: