Na Universidade do Algarve
realiza-se hoje uma Conferência, “Porque melhoraram os resultados dos alunos
portugueses?", com a participação de Isabel Flores do Projecto aQueduto - Avaliação,
Qualidade e Equidade em Educação - uma parceria entre o CNE e a Fundação
Francisco Manuel dos Santos.
Ao que se lê no I será abordada
uma questão que me parece interessante.
Com base nos dados do PISA de
2015 apenas 1.5% dos alunos de 15 anos envolvidos no estudo encara a
possibilidade de ser professor apesar de boa parte dos alunos valorizarem positivamente os professores. Recordo que nos dados do PISA
de 2012 e no conjunto dos vários países, a maioria dos alunos é da opinião de
que os professores os ajudam. Portugal e Finlândia lideram a satisfação com a
ajuda prestada pelo corpo docente (83% e 85%, respectivamente).
Na comparação entre os dois
países, na Finlândia cerca de 3% admite poder ser professor. O dado curioso é
que em Portugal os alunos que admitem vir a ser professores têm resultados abaixo
da média em Matemática enquanto na Finlândia têm resultados acima da média.
Dito de outra maneira e de
forma simples, os alunos de uma forma bem clara valorizam os professores mas
apenas os alunos com menor desempenho médio a Matemática (critério PISA) admitem vir a ser
professores.
Uma primeira nota para sublinhar
a prudência necessária na interpretação destes dados e na definição de
eventuais consequências na qualidade dos trajectos futuros, a relação entre o
perfil de desempenho de uma aluno de 15 anos e o seu potencial desempenho futuro
como professor deve ser vista com extrema reserva. No entanto, creio que podemos
dizer algo que me parece merecer alguma reflexão.
A este quadro talvez não seja
alheio alguns discursos produzidos sobre os professores que desvalorizam e
empobrecem o seu estatuto social e a representação sobre a classe e que são
produzidos, por exemplo, por “opinion makers” que frequentemente têm agendas
implícitas e quase sempre estão mal informados.
Talvez não seja alheia a instabilidade
nas políticas educativas com impacto óbvio na estabilidade das carreiras e da
sua valorização. Provavelmente em muitas famílias, as que mais probabilidades
terão de ter filhos com melhor desempenho escolar, a profissão professor não é uma
escolha incentivada ou, no mínimo, bem aceite.
Também alguns discursos vindos
dos próprios representantes dos professores podem muitas vezes contribuir para
equívocos e representações desajustadas sobre os professores e os seus
problemas.
Deste cenário resulta como tantas
vezes tenho afirmado a necessidade da valorização dos docentes e da sua
profissão de modo a que se torne mais atractiva. Relembro que o envelhecimento muito
significativo da classe colocará muito rapidamente a necessidade de mais
docentes.
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