Segundo dados do EUROSTAT referidos no JN, os jovens portugueses abandonam a
casa dos pais em média aos 29,1 anos mantendo a tendência de que tal aconteça cada vez
mais tardiamente. Como é habitual nos países nórdicos verifica-se a saída mais
precoce, 20 e 21 anos na Suécia e Dinamarca e no sul da Europa estão s países
com a saída mais tardia e nos quais se inclui Portugal.
Para além das questões de natureza cultural e de valores que importa
considerar bem como as políticas de família nos países do norte da Europa, as
actuais circunstâncias de vida dos jovens sustentam este cenário que provavelmente demorará a ser revertido.
Segundo o INE e considerando o primeiro trimestre deste ano,
existirão em Portugal cerca de 175 mil jovens entre os 15 e os 29 anos que não
estudam, nem trabalham, a geração “nem, nem" ou, na terminologia em inglês
os jovens NEET (Not in Education, Employment or Training).
Destes, estima-se que perto de 67 mil não estão inscritos
nos centros de emprego. São números impressionantes.
Parece importante assinalar que esta situação afecta
sobretudo jovens com menos qualificações e mulheres, o que também não é novo. A
exclusão escolar é quase sempre a primeira etapa da exclusão social.
Por outro lado, mais de 100 000 jovens, sobretudo
qualificados, têm vindo a sair do país, emigrando para outras paragens em busca
de uma futuro que por cá não vislumbram
A estes indicadores já profundamente inquietantes deve
juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do recurso a estágios e outras
modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata e a prática de vencimentos
que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo para jovens altamente
qualificados.
Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem tem,
obviamente, sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que estão a
bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, os dados hoje
conhecidos mostram-no, o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no
acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de
projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno
demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à
sustentabilidade dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam
enormes dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito
provavelmente, conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira
profissional.
No entanto, um efeito muito significativo mas menos tangível
desta precariedade no emprego, é a promoção de uma dimensão psicológica de
precariedade face à própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os
discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode
instalar-se, está a instalar-se, uma desesperança que desmotiva e faz desistir
da luta por um projecto de vida de que se não vislumbra saída motivadora e que
recompense.
O aconchego da casa dos pais pode ser a escapatória para a
sobrevivência.
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