Agora no Expresso online está
disponível um trabalho sobre o consumo de álcool entre adolescentes e jovens
com dados no mínimo inquietantes.
O consumo de álcool tem vindo a
crescer alterando-se também os padrões de consumo, beber na rua (é bastante
mais barato) e o consumo excessivo e rápido (binge drinking) são duas
características presentes. Segundo alguns especialistas, a embriaguez parece
deixar de ser uma consequência do consumo excessivo para passar a ser um
objectivo em si mesmo. Este padrão tem vindo a ser sublinhado por diferentes
estudos sobre os hábitos dos adolescentes e jovens portugueses, cerca de 80%
dos jovens com 15 anos consomem álcool segundo um trabalho da Unidade de
Alcoologia de Coimbra do IDT e em 2007 56% dos jovens com 16 anos inquiridos
referiram este tipo de consumos enquanto em 2003 o indicador era de 25%.
No mesmo sentido um estudo de
2015 do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências mostrou
que 31% dos alunos com 13 anos já experimentaram álcool, especialmente cervejas
e misturas. Algumas notas mais.
Uma primeiro aspecto a considerar
é o facto de os adolescentes poderem facilmente comprar cerveja e outras
bebidas, as “litrosas” ou os shots, como lhes chamam, no comércio mais
habitual, lojas de conveniência ou pequenos estabelecimentos de bairro, a um
preço bem mais acessível que nos estabelecimentos que frequentam na noite e
recorrendo à “toma” simples ou com misturas ao longo da noite, comprida aliás.
A presente legislação restringe o comércio e estabelece multas bem mais pesadas
mas veremos o efeito prático pois em diferentes domínios a restrição devido à
idade nem sempre é respeitada.
O consumo em quantidade e em
grupos, sobretudo ao fim-de-semana, é muitas vezes entendido e sentido como o
factor de pertença ao grupo, potenciando a escalada do consumo, juntos bebemos
mais do que sós, como é óbvio e o estado que se atinge é sentido como um
"facilitador" relacional e como é recomnhecido o controlo das idades de quem
compra seja ineficaz e facilmente ultrapassado.
Muitos
adolescentes, ouvidos em estudos nesta matéria, referem ainda a ausência de
regulação dos pais sobre os gastos, sobre os consumos ou sobre as horas de
entrada em casa, que muitas vezes tem que ser discreta e directa ao quarto
devido ao “mau estado” do protagonista.
Como é evidente, já muitas vezes
aqui o tenho referido com base na minha experiência de contacto com pais de
adolescentes, não estamos a falar de pais negligentes. Podem acontecer
situações de negligência mas, na maioria dos casos, trata-se de pais, que sabem
o que se passa, “apenas fingem” não perceber desejando que o tempo “cure”
porque se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e
como lidar com a questão. De fora parece fácil produzir discursos sobre
soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes
sentida como maior que eles.
É preciso que a comunidade esteja
atenta a estes adolescentes que logo desde os 13 ou 14 anos “acedem” às
“litrosas” e aos shots e também aos seus pais que muitas vezes estão tão perdidos quanto
eles.
Apesar de se poder vir a legislar
no sentido de apenas aos 18 anos ser permitida a aquisição de qualquer tipo de
álcool, parecem-me imprescindíveis a adequada fiscalização e a criação de
programas destinados a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo
excessivo.
A proibição, como sempre, não
basta, restringir a publicidade só por si não adianta.
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