Era uma vez um Rapaz que vivia
num poço. Na verdade o Rapaz sentia que vivia num poço. Era um poço estranho
tinha paredes que não se viam, ninguém as via, apenas o rapaz as sentia.
Uma parede era feita de raiva,
outra parede era feita de tristeza, outra parede era feita de nada, isto é,
feita de vazio. Mas tinha mais paredes este poço em que o Rapaz sentia que
vivia. Havia ainda uma parede feita de revolta, outra feita de impotência,
outra feita de sofrimento e outra feita de fingimento. Era uma sensação
estranha, por onde quer que andasse o Rapaz sentia-se sempre dentro do poço, a
esbarrar contra uma das paredes. Como as paredes não se viam ninguém prestava
especial atenção ao Rapaz para além de registar como ele era quando estava
junto de cada uma das paredes, com raiva, triste, vazio de referências,
revoltado, impotente, sofredor ou um fingidor de mau, o que mais as assustava.
Um dia, uma Rapariga passou perto
do Rapaz que encostado à parede da tristeza do seu poço olhava sem ver. Aqueles
olhos cruzaram-se com os da Rapariga que soltou um olá. O Rapaz, como que
acordou e viu um sorriso que não se lembrava de alguém lhe ter dirigido uma vez
que fosse na sua vida. A Rapariga embaraçada, hesita e perguntou-lhe se queria
passear um bocado estendendo-lhe a mão.
A medo e surpreendido, nunca lhe
acontecera algo semelhante, o Rapaz estendeu a mão e andaram, muito tempo e em
silêncio.
Foi um passeio estranho, o Rapaz
não esbarrou com nenhuma das paredes do poço em que vivia.
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