Ontem realizou-se na Fundação
Gulbenkian a Conferência Internacional de Educação "2017 Inovação: Na
Escola e pela Escola".
O Ministro da Educação realizou uma
intervenção a que acedo através da imprensa e merece umas notas.
Uma primeira referência à “inovação”
e à colagem recorrente da “inovação” às competências digitais, às novas
tecnologias.
Como tenho escrito não simpatizo com
a recorrente referência à “inovação” na educação e na escola. Confesso que já
me cansa tanto “inovar”, tantas referências a "novas formas de
ensinar".
Mudar algo na forma como se faz não é o mesmo
que inovar, fazer qualquer coisa de novo. Nestas matérias, talvez de forma
simplista mas é intencional, penso como Almada Negreiros quando referia na
"Invenção do Dia Claro”, "Nós não somos do século de inventar
palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar
outra vez as palavras que já foram inventadas”.
Dito de outra maneira, já
conhecemos as palavras da educação, apenas temos que ir ajustando o que fazemos
com elas. Peço desculpa, só para dar dois exemplos comuns, não creio que
utilizar um tablet na sala de aula seja inovar, é fazer o que de há muito sabe,
o trabalho em sala de aula deve reflectir o estado da arte das comunidades em
matéria de desenvolvimento científico, ou seja, o tablet é “novo” mas a prática
nem tanto. Também não creio que um trabalho que articule conteúdos curriculares
de diferentes disciplinas seja “inovador” embora se possa dizer que não é tão
frequente como se desejaria ou que as múltiplas variáveis que envolvem os
processos de ensino e aprendizagem não facilitam.
Segunda nota, o Ministro sublinhou
a importância incontornável do professor, “Todos os dispositivos sofisticados e
wifi do mundo não vão fazer diferença se não tivermos grandes professores nas
salas de aula”. Estamos de acordo mas para assim seja não basta a retórica, os
professores, as escolas precisam de condições, politicas e recursos que
potenciem o trabalho do professor, que o desburocratizem, valorizem e
estabilizem, só para referir alguns aspectos.
A terceira referência para a
necessidade de uma Escola-Alfaiate “"Chega agora o momento de encontrarmos
a resposta que melhor nos convenha para, de uma forma longa no tempo,
assegurarmos a Escola-Alfaiate que o mundo contemporâneo já há algum tempo nos
vem exigido. Uma Escola à medida de todos, de cada um, da nossa rua, como do
nosso mundo".
Muito bem Senhor Ministro, uma
escola à medida de cada aluno. Será mesmo isso que quis dizer?
Uma pequena dúvida, como se
constrói uma escola à medida de cada aluno? Pode experimentar começando por um
dos mega-agrupamentos com mais de 3000 alunos.
Peço desculpa Senhor Ministro mas
o caminho não passa por uma “escola à medida de cada um” passa por uma escola
onde caibam todos e onde todos encontrem resposta para a sua diversidade. Não é
a mesma coisa, certo?
E uma escola onde caibam todos
não passa apenas pela afirmação do desejo de que assim seja. Vejamos.
É evidentemente um processo
complexo mas passa por identificar e prevenir dificuldades de forma precoce.
Passa pela definição de
currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio eficazes,
competentes e suficientes a alunos e professores.
Passa pela definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a
definição de objectivos de curto e médio prazo.
Passa pela valorização do
trabalho dos professores.
Passa pela promoção de práticas
com melhores níveis de diferenciação e expectativas positivas face ao trabalho
e face aos alunos.
Passa por mais trabalho e
dispositivos de apoio a intervenção de natureza colaborativa ou tutorial, quer
para professores quer para alunos.
Passa racionalizar a rede, em termos
de escola ou turma, depois do movimento da excessiva concentração de alunos,
etc.
Passa por dispositivos de
regulação que apoiem professores, direcções e escolas no desenvolvimento dos
projectos educativos das suas comunidades.
Passa por …
Isto não produzirá certamente uma
“Escola-Alfaiate”, essa escola já existe de certa forma tantos são os cortes, remendos
e costuras que tem sofrido embora reconheça, é justo dizê-lo, que algumas mudanças tem vindo a
acontecer num sentido mais positivo.
Talvez contribua para o desenvolvimento
de instituições educativas que através da acção diária dos professores possam
fazer a diferença e acomodar a diversidade nos alunos, todos os alunos.
Sem comentários:
Enviar um comentário