Já foram divulgados os resultados
das provas de aferição e os resultados são preocupantes em todas as áreas
avaliadas à excepção das Expressões Artísticas e Motoras. O Ministério já divulgou
um conjunto de medidas a desenvolver destacando a promoção da formação de professores.
Como já aqui tenho escrito continuo
com muitas dúvidas sobre a realização das provas de aferição em anos
intermédios dos ciclos, 2º. 5º e 8º. Uma aferição, creio, deverá ser realizada
no final de um período de aprendizagem. Só nessa altura será possível “aferir”
os resultados que se encontram face aos resultados que se esperam e ter uma
visão global comparativa.
Uma avaliação durante um período
de trabalho com o objectivo de detectar dificuldades e corrigir trajectórias é
evidentemente um requisito de qualidade mas é, do meu ponto de vista, uma
avaliação de diagnóstico, de regulação, não de aferição. Assim deveremos olhar
para estes resultados não esquecendo a sua eventual contaminação pela representação que os discursos sobre as provas de aferição podem ter provocado nos alunos e famílias no sentido da sua desvalorização.
Os alunos que agora responderam
às provas de aferição serão avaliados no PISA de 2018, 2021 e 2024 e passaram
globalmente pelo efeito das metas curriculares e da examocracia desde 2011 e
2012. Veremos se conseguimos manter a trajectória de sucesso no PISA que vinha a registar-se até 2015.
Quanto aos resultados e à sua
melhoria o ME identifica a Formação de professores como eixo central.
Sabemos que apesar do peso das
variáveis relativas aos alunos e contexto social, económico e cultural, o
trabalho na e da escola e dos professores é um factor significativamente
explicativo do sucesso dos alunos mais vulneráveis e capaz de contrariar ou
minimizar o peso dessas variáveis.
Este trabalho da e na escola
envolve dimensões como organização e funcionamento, clima, níveis de
colaboração e cooperação, estilo e competência das lideranças, por exemplo e,
definitivamente, o trabalho em sala de aula em que surge a diferença produzida
pelo professor, pelos professores.
Quando abordo estas questões cito
com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children,
"O factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a
existência de um professor qualificado e empenhado". Neste quadro a formação
é sempre importante mas será que é a principal fragilidade?
Terá a generalidade das escolas
recursos (tempo, docentes e técnicos) e autonomia para organizar dispositivos
de correcção de trajectórias escolares de insucesso ou em risco detectadas
nestas provas de aferição?
Também sabemos que o sucesso se
constrói identificando e prevenindo dificuldades de forma precoce, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
eficazes, competentes e suficientes a alunos e professores, com a definição de
políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e
modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das
escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, com a
valorização do trabalho dos professores, com práticas de diferenciação e
expectativas positivas face ao trabalho e face aos alunos, com melhores níveis
de trabalho cooperativo e tutorial, quer para professores quer para alunos,
etc.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.
Só falta um pequeno passo.
Construir para todos os miúdos
trajectórias de sucesso. Não, não é uma utopia. Tal como o insucesso não é uma
fatalidade do destino.
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