Num dos raros exemplos de
unanimidade a Assembleia da República aprovou uma recomendação ao Governo no
sentido de desenvolver um conjunto de medidas que promovam o aligeirar do peso
das mochilas transportadas pelos alunos portugueses.
A recomendação surge na sequência
de uma petição pública e com o apoio de diferentes especialistas face à preocupação com os riscos desse peso excessivo. Diferentes estudos sugerem que
sete em cada dez crianças transportam às costas um peso superior ao aconselhado
pela OMS, 10% do seu peso corporal.
Como escrevi na altura acho que existem
muitas matérias que não deveriam ser objecto de legislação, o bom senso deveria
bastar mas assim não é, esperemos que algo surja no sentido de minimizar a
situação que para algumas crianças é mesmo pesada. Daí a insistência no que na
altura referi.
Como é óbvio esta preocupação,
pelas suas implicações e riscos, imediatos e a prazo, para a saúde dos miúdos,
deve merecer a atenção de pais e educadores no sentido de a minimizar, embora,
por outro lado, o seu transporte configure um exercício físico que disfarça a
ausência de espaços e equipamentos adequados em muitas das nossas escolas e
combata uma infância sedentarizada, a troco, é certo, de uma coluna castigada.
No entanto, aproveitando o espaço
e o tempo de reflexão criados talvez também fosse útil olhar de uma forma mais
alargada para o peso excessivo que muitas crianças carregam nas suas costas.
As mochilas escolares serão
apenas um dos carregos, por assim dizer, mas existem outros que temo ficarem
fora deste conjunto de recomendações.
Estou a pensar no peso da pressão
para que sejam excelentes.
Estou a pensar no peso da pressão
para que sejam o que não são e da pressão para que não sejam o que são.
Estou a pensar no peso da pressão
de viver demasiado só.
Estou a pensar no peso da pressão
que leva a que, por vezes, só gritando e agitando-se se façam ouvir.
Estou a pensar no peso da pressão
de não conhecer o caminho e sentir-se perdido.
Estou a pensar no peso da
exclusão que muitos sofrem.
Estou a pensar no peso da pressão
de actividades sem fim e, às vezes, sem sentido. Estou a pensar no peso da
pressão do depressa e bem.
Estou a pensar no peso da pressão para
sejam diferentes e na pressão para que sejam iguais.
Estou a pensar no peso da pressão
causada por famílias demasiado distantes ou por famílias demasiado próximas ou
ainda por famílias ausentes.
Na verdade, há miúdos que
carregam o mundo às costas. Entende-se as preocupações dos professores, pediatras,
psicólogos, ortopedistas, outros especialistas e de muitos de nós com a coluna
dos miúdos.
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