Era uma vez um rapaz chamado Escondido. Tinha aí uns catorze ou quinze anos que, como se lembram, é uma idade em que muitos de nós, ou nos mostramos em demasia, gostamos de ter as pessoas, sobretudo os amigos, a olhar para nós, ou, pelo contrário, nos escondemos demasiado com medo que os outros reparem naquilo que achamos não ser ou não ter.
O Escondido era dos que não gostava que olhassem para ele. Desde que acordava, o Escondido passava o tempo a tentar esconder-se. Como era um tipo esperto arranjava muitas maneiras de o conseguir. Escondia-se atrás de um boné a cair para os olhos. Também gostava de usar blusões com carapuço que punha sobre a cabeça e os olhos no chão. Ninguém o “via”. Também não dispensava o a música, com os phones nas orelhas não o interpelavam e ele, claro, continuava Escondido.
Na escola, escondia-se na última fila, atrás de um livro aberto que não lia e de um ar ausente de quem estava a viajar bem longe dali.
Aos intervalos, o Escondido deslizava para um qualquer canto da escola onde se arrumava, discretamente, a jogar no telemóvel.
Escondia-se de tal maneira o Escondido, que nem olhava o espelho com medo de se descobrir a ele próprio.
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