O julgamento que hoje se iniciou de um grupo de alunos
do Colégio Militar que terão infligido maus tratos a colegas mais novos leva-me
a umas notas.
Com as mudanças provocadas pela PEC - Política
Educativa em Curso, agrupamento de escolas e aumento do número de alunos por
turma, temos estabelecimento escolares com um número muito significativo de
alunos de idades bem diferenciadas a conviver no mesmo espaço físico. Por outro
lado, os sucessivos cortes de professores e de funcionários leva a que as escolas tenha uma enorme dificuldade,
aliás, recorrentemente referida na comunicação social, em assegurar o seu
funcionamento em patamares aceitáveis de qualidade e eficácia.
Uma das consequências implica a dificuldade em
assegurar uma supervisão adequada dos espaços de recreio e não lectivos o que,
considerando o número de alunos e as diferenças de idade, poderá potenciar o
risco de comportamentos desajustados entre os alunos.
É reconhecido que os problemas mais
significativos sentidos nas escolas, indisciplina, violência, delinquência,
bullying, etc. ocorrem em grande parte nos recreios pelo que, afirmo-o muito
frequentemente, me parece fundamental que se dê atenção educativa aos tempos e
espaços de recreio escolar.
Em muitas escolas a insuficiência de pessoal
auxiliar, agora baptizados “assistentes operacionais” muito agravada nos tempos
que correm como já referi, não permite a ajustada supervisão desses espaços.
Por outro lado, a sua formação em matérias como supervisão educativa e mediação
de conflitos, por exemplo, e/ou, o entendimento que têm das suas competências,
muitas vezes não valorizadas pela própria comunidade educativa e geral, leva a
alguma negligência ou receio de intervenção.
Talvez não seja muito popular mas digo de há
muito que os recreios escolares são dos mais importantes espaços educativos,
aliás, muitas das nossas memórias da escola, boas e más, passam pelos recreios.
Neste sentido, defendo que a supervisão dos intervalos deveria ser da
responsabilidade de docentes e, porque não, envolvendo também alunos. Para isso
torna-se necessário recursos e formação, matérias que estão a sofrer uma
colossal austeridade e enviar milhares de professores para o desemprego.
A reestrutura da enorme carga burocrática do
trabalho dos professores, dos modelos de organização e funcionamento das
escolas, por exemplo, poderiam também libertar horas de docentes para esta
supervisão que me parece desejável.
A boa e atenta “profes-vigilância” é mais eficaz
que um invisível “big brother”, por exemplo a vigilância electrónica, que
alguns defendem, ou a presença regular inviável e indesejável de elementos
forças de segurança nos espaços escolares como já tenho ouvido defender.
É hoje aceite a importância do clima da escola
como factor associado ao sucesso do trabalho de alunos e professores e a
minimização dos problemas ligados ao comportamento e à indisciplina.
No entanto, como noutras matérias, as decisões de
política educativa não relevam do que se sabe ser bom para alunos, professores
e pais, mas de critérios de outra natureza, mais ou menos implícita de que aqui
também já temos falado.
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