Embora pareça contraditório com o facto de sermos
um povo assim a atirar para o triste, os estudos comparativos sugerem tal
ideia, existe uma expressão que nos é muitíssimo familiar mas sugestiva de que
muito do que está à nossa volta é a brincar. Trata-se da recorrente expressão
“a sério?”, significativa de incredulidade e desconfiança. Entre tantas
formulações alternativas, logo recorremos a algo que nos certifique de que o
nosso interlocutor não está a brincar. A ver pela frequência de utilização, não
dá para perceber como somos o tal povo tristonho. Alguns exemplos do quotidiano.
O governo aceitou sugestões legislativas da
oposição. A sério?
A oposição aplaudiu uma iniciativa do governo. A
sério?
A política de austeridade é para continuar. A
sério?
O governo expressa uma preocupação de equidade e
justiça na repartição de sacrifícios. A sério?
Começam a vislumbrar-se alguns sinais positivos
na economia portuguesa. A sério?
O ano lectivo arrancou com total normalidade. A
sério?
Os exemplos poderiam continuar.
Em termos mais pessoais, a situação é do mesmo
tipo.
Adoro-te. A sério?
Estou cansado de trabalhar. A sério?
Estou um bocado preocupado. A sério?
Essa roupa fica-te bonita. A sério? Pai, as notas
subiram. A sério?
João, podes continuar a brincar. A sério?
Com esta necessidade compulsiva de nos
certificarmos de que o outro não brinca parece, de facto, estranho como nos
consideram um povo triste.
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