Um Relatório do Banco de Portugal, hoje conhecido, refere que nas empresas em
que saíram e entraram trabalhadores os salários diminuíram 11%.
Esta rotação com saldo negativo contribui para o abaixamento do nível salarial
em 2012 verificando-se assim o prolongamento do desemprego e a penalização
salarial no retorno ao trabalho. Mesmo entre as pessoas que mantiveram o emprego, 23% viram o
salário reduzido em 2012, um valor mais elevado que o de 2011.
Os dados não trazem nada de novo, a OCDE já tinha
divulgado que os custos do trabalho em Portugal continuaram a baixar entre
Abril e Junho, o que confirmou dados também divulgados pela consultora Mercer
que registavam que os salários médios em Portugal baixaram pelo segundo ano
consecutivo.
Conjugando esta informação com dados INE, vai
ficando claro o trajecto de proletarização e empobrecimento que as políticas em
curso e em perspectiva impõem à economia e ao mercado de trabalho.
Em Portugal, cerca de 690 000 pessoas, 15% da
população empregada, trabalham 48 horas ou mais por semana, o critério
internacional para "trabalho excessivo". Este número tem vindo a
aumentar mas, provavelmente para compensar, o salário médio líquido da economia
tem vindo a baixar o que é coerente com o empobrecimento e proletarização
desejados, mais trabalho e menos salário. Veja-se a decisão de aumentar a carga
horária dos funcionários da administração pública e o processo em curso de
despedimento mascarado.
Acresce a esta situação o elevadíssimo nível de
desemprego, sobretudo desemprego jovem de longa duração sendo que também deve
ser considerado impacto da altíssima carga fiscal nos rendimentos familiares
finais.
De notar ainda que desde o início da intervenção
da Troika que nos governa o emprego apenas cresceu no patamar com salários até
310 €, um assombro.
É difícil de entender a persistência numa
estratégia de empobrecimento como salvação para as dificuldades num país em que
perto de três milhões de pessoas, quase um terço da população está risco de
pobreza. Este é o resultado de uma persistência cega e surda no “custe o que
custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos
objectivos de uma política "over troika", atingindo claramente o
limite do suportável e afectando gravemente as condições de vida de milhões.
Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor estamos a falar do
efeito das políticas na vida das pessoas. E estamos no “bom caminho”? Temos que "reposicionar expectativas"?
Ter como preocupação quase exclusiva o
abaixamento dos custos do trabalho através do aumento da carga horária e do
abaixamento de salários não parece ser a forma mais eficaz de combater o
desemprego, promover desenvolvimento e criação de riqueza.
Parece razoavelmente claro que a proletarização
da economia não poderá ser a base para o desenvolvimento económico, mas sim o
investimento e a disponibilização de crédito a custos razoáveis, sobretudo para
as pequenas e médias empresas que de forma mais ágil criam emprego e emprego
qualificado que não pode ter a indignidade dos salários que conhecemos.
O que precisamos é de coragem e visão sem
subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos
económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados ou a
grupos minoritários de interesses.
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