Segundo uma investigadora da Universidade do
Minho e apesar de realizar uma análise "grosseira", as variações
demográficas não explicam o significativo decréscimo no número de jovens que se
candidataram este ano ao ensino superior.
Já há tempos escrevi isso mesmo e agora retomo
algumas das notas.
De facto, a situação verificada não pode ser unicamente
explicada pela variação demográfica nem pela crise económica e emigração embora
estes sejam, naturalmente, factores com impacto fortíssimo, sobretudo as
dificuldades financeiras das famílias.
O que me parece muito preocupante é que dos cerca
de 160 000 alunos inscritos nos exames da primeira fase, apenas 57%
manifestavam intenção de frequentar o ensino superior e destes, apenas 44%
procederam a matrícula.
Temo que o número relativamente baixo de alunos
com a intenção de adquirir formação de nível superior possa estar ligado à
perversa e errada ideia do “país de doutores” que, muitas vezes com o auxílio
de uma imprensa preguiçosa e negligente, se foi instalando a propósito do
número de jovens licenciados no desemprego e da conclusão de que “não vale a
pena estudar”, um verdadeiro tiro no pé e que não corresponde de todo à
verdade.
Em primeiro lugar, os jovens licenciados não
estão no desemprego por serem licenciados, estão no desemprego porque temos um
mercado pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente de mão-de-obra
qualificada e muitos estão no desemprego porque, por desresponsabilização da
tutela, a oferta de formação do ensino superior é completamente enviesada
distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura.
A qualificação profissional, de nível superior ou
não, é essencial, continuamos com taxas de formação superior abaixo das médias
europeias, como também é essencial a racionalidade e regulação da oferta do
ensino superior e, naturalmente, a regulação eficaz do mercado de trabalho
minimizando o abuso do recurso à precariedade. É ainda de sublinhar que
conforme um estudo recente, "Empregabilidade e Ensino Superior em
Portugal", da responsabilidade da Agência de Avaliação e Acreditação
do Ensino Superior a qualificação de nível superior compensa em termos de
estatuto salarial e empregabilidade, como aliás estudos internacionais, por
exemplo da OCDE, também demonstram.
Por outro lado, parece oportuno recordar que, de
acordo com o Relatório da OCDE, Education
at a glance 2013, Portugal é um dos países europeus em que a frequência de
ensino superior mais depende do financiamento das famílias, cerca de 31% dos
gastos de universidades e politécnicos. A média da OCDE é 32% e a da União
Europeia (UE) 23,6%.
Esta informação não é nova. Na verdade e como é
do conhecimento das pessoas mais perto deste universo, o ensino superior,
Portugal, contrariamente ao que muitos afirmam, tem um dos mais altos custos de
propinas da Europa. Conforme dados de 2011/2012 da rede Eurydice, Portugal tem
o 10º valor mais alto de propinas na Europa, mas se se considerarem as
excepções criadas em cada país, temos na prática o terceiro custo mais alto no
valor das propinas.
Em 2012 foi divulgado um estudo realizado pelo
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que contribui para desmontar um
equívoco que creio instalado na sociedade portuguesa. Comparativamente a muitos
outros países da Europa, Portugal tem um dos mais altos custos para as famílias
para um filho a estudar no ensino superior, ou seja, as famílias portuguesas
fazem um esforço bem maior, em termos de orçamento familiar, para que os seus
filhos acedam a formação superior. Neste cenário, o número de desistências da
frequência tem vindo a aumentar pois muitos alunos ou famílias não suportam os
encargos com o estudo. Sabe-se também dos constrangimentos na atribuição de
bolsas de estudo.
Como sempre que abordo estas matérias, finalizo
com a necessidade de, uma vez por todas, evitar o discurso
"populista" do país de doutores, continuamos com uma enorme
probabilidade não cumprir a meta europeia para 2020 de 40% de licenciados no
escalão etário 30-34 anos.
1 comentário:
PASSATEMPO
Mercê do Instituto Politécnico de Portalegre, é possível o acesso online à versão do INDEZ 2010 de Setembro de 2011.
http://www.ipportalegre.pt/html1/1o%20polit%C3%A9cnico/9Observat%C3%B3rio%20Acad%C3%A9mico/Estudos/INDEZ2010%20-%20Setembro%202011.pdf
Versão esta do INDEZ 2010 que inexplicavelmente deixou de constar no site da DGES, não obstante para este documento, expressamente, remeter o esclarecimento de 20 de Setembro de 2011 do Reitor da Universidade de Lisboa, Sr. Prof. Sampaio da Nóvoa, sobre os concursos desta Universidade; publicado na News n.º 23; Setembro/Outubro de 2011.
http://news.fm.ul.pt/Content.aspx?tabid=76&mid=517&cid=1629
Quando o actual Governo protagonizava anseios renovados por um Portugal que se afirmasse pela transparência, muito surpreendeu que a quantidade de informações disponibilizada tenha sido reduzida de forma a deixar de ser possível conhecer as habilitações académicas do corpo docente de cada um dos estabelecimentos de ensino superior públicos…
Esta saga teve o seu início no ano de 2011, com a divulgação do INDEZ 2010, do qual são conhecidas, pelo menos, três versões.
Desde logo, surpreendeu que a Direcção-Geral do Ensino Superior tenha divulgado o INDEZ 2010 em meados de Setembro de 2011, com dados referentes ao ano de 2010; no entanto, estes foram inúteis na preparação do ano lectivo 2011/2012, ano em que era esperada a implementação da racionalização da rede de estabelecimentos de ensino superior público, o “novo roteiro do ensino superior” a que aludia o anterior Ministro da Tutela, Sr. Prof. Mariano Gago.
E mesmo a qualidade da informação divulgada é obscurecida pelo gráfico 2, da página 6, de leitura imprecisa, que tornam a simples compreensão da escassa informação nele vertida num quebra-cabeças mais apropriado a um passatempo do que a informação oficial.
Convido o Leitor a, interpretando o gráfico 2, da página 6, do INDEZ 2010, de Setembro de 2011, dizer quais são as percentagens das distribuições das habilitações académicas (a 31/12/2010) representadas em cada uma das quatro colunas deste gráfico.
Eu esforcei-me, e confesso a minha incapacidade.
Ao que acresce alguma prosa pouco assertiva e até equivoca.
Não resisto a exemplificar, página 5:
“Dos 23.658 docentes existentes, a 31/10/2010, nas Instituições de Ensino Superior Público:
- 62% pertenciam a instituições de natureza universitária e 38% a instituições de natureza politécnica;
- 48% tinham o doutoramento, 27% tinham a licenciatura, 24% tinham o mestrado e 1% tinham o 12 ou menos anos de escolaridade;”
Obviamente que as percentagens das habilitações académicas enunciadas não reflectem nem a realidade do nosso ensino universitário, nem a do ensino politécnico; mal deste País se a percentagem dos docentes doutorados nas universidades públicas portuguesas fosse de 48%... e pode-se, sem risco, decretar uma comemoração nacional para o dia em que os docentes doutorados atingirem essa percentagem no ensino politécnico público.
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