Em ranking elaborado pelo Fórum Económico Mundial,
Portugal desceu para 51ª posição no que respeita à desigualdade entre géneros,
o pior resultado desde 2006 e que vai em sentido contrário à tendência mundial
de minimização da desigualdade entre géneros. Os responsáveis atribuem tal abaixamento
à degradação verificada nos últimos anos das condições salariais dos
portugueses.
Na verdade, esta é um dos muitos danos colaterais
da dos problemas que nos atropelam.
Recordo que há uns meses foi conhecido o
Relatório Igualdade de Género em Portugal 2011 da Comissão para a
Cidadania e Igualdade de Género, segundo o qual, “a remuneração média mensal de
base recebida pelas mulheres em 2010 foi de 801,81 euros e a dos homens
977,56”, ou seja uma diferença média de 175,75 € que em grupos específicos pode
ser bastante mais elevada.
Dados de um Relatório da Comissão Europeia, Análise
Trimestral do Emprego e da Situação Social na União Europeia, divulgado em
Janeiro, referia que a disparidade salarial entre homens e mulheres,
considerando o período de 2008 a 2010 baixou, o que aparentemente é um passo no
caminho da não discriminação de género. No entanto, este abaixamento não
resulta de melhorias nas condições do mercado de trabalho, mas, pelo contrário,
na degradação das condições e na qualidade do trabalho em sectores com
mão-de-obra predominantemente masculina, ou seja, é uma situação conjuntural e
não estrutural como refere, aliás, a Comissão. Em Portugal, embora se verifique
um nível significativo de disparidade salarial a situação não é das mais
graves.
Apesar disso, existe ainda um longo caminho a
percorrer em matéria de discriminação de género que, creio, a actual situação
económica tenderá a agravar.
Parece-me também significativo que de acordo com
o Relatório Society at a Glance 2011,
da OCDE, Portugal é o quarto país dos 29 considerados com maior diferença entre
homens e mulheres, no que se refere a trabalho não pago, sobretudo a tão
portuguesa “lida da casa”, cozinhar, limpar, cuidar dos filhos, etc. Entre nós
a diferença é de quase quatro horas.
No mesmo sentido, um trabalho também realizado
pela CGTP com dados do INE e do Ministério do Trabalho, informava que as
mulheres portuguesas trabalham em média 39 horas semanais e realizam mais 16
horas de trabalho não remunerado relacionado com a família e um trabalho
internacional revelava que as mulheres portuguesas são das que trabalham fora
de casa. Existem ainda indicadores sustentando que as mulheres portuguesas são,
de entre as europeias, as que mais valorizam a carreira profissional e a
família, a maternidade.
Para além dos baixos salários e da discriminação
salarial de que muitas mulheres, sobretudo em áreas de menor qualificação, são
ainda alvo, também a regulação da legislação laboral e a sua “flexibilização” as
deixam mais desprotegidas. Regista-se um aumento do recurso à prostituição para
sobreviver a condições económicas muito complicadas. São conhecidas muitas
histórias sobre casos de entrevistas de selecção em que se inquirem as mulheres
sobre a intenção de ter filhos, sobre casos de implicações laborais negativas
por gravidez e maternidade, sobre situações em que as mulheres são pressionadas
para não usarem a licença de maternidade até ao limite, etc. Pode também
referir-se que apesar das alterações legislativas o uso partilhado da licença por
nascimento de filhos ainda é significativamente baixo.
Importa, evidentemente, combater a discriminação
salarial e de condições de trabalho através de qualificação e fiscalização
adequadas.
Na verdade, a metade do céu, que as mulheres
representam, carrega um fardo pesado.
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