sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A MAÇÃ É BOA, TEM BICHO

No Público encontra-se a referência a um movimento emergente, algumas cadeias de venda a retalho colocam à venda a preços mais baixos legumes e fruta que em termos de apresentação não são perfeitos, não correspondem a normas de aspecto e calibragem mas mantêm a intacta a qualidade.
As razões para esta iniciativa prendem-se com o elevado desperdício e os consumidores estão a aderir. Algumas notas.
A Organização para a Alimentação e a Agricultura, da ONU, estima que 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos, um terço do que é produzido, são desperdiçadas com um custo de anual de 570 mil milhões de euros para a economia global, permitiriam alimentar 925 milhões de pessoas que passam fome todos os dias. Vivemos num mundo estranho.
Recordo que no Ciclo de Conferências realizado pela Gulbenkian, foi apresentado um trabalho “Do Campo ao Garfo – Desperdício Alimentar em Portugal" que avaliava em um milhão de toneladas o desperdício de alimentos entre a produção e o consumo, o que parece verdadeiramente significativo num tempo de pobreza e dificuldades, nacionais e internacionais.
Creio que muitas vezes achamos que desperdício é coisa de gente rica, os pobres não desperdiçam o que, obviamente, não corresponde à realidade como os estudos evidenciam. O desperdício é um subproduto dos modelos de desenvolvimento e dos sistemas de valores que deveria merecer uma fortíssima atenção.
Há algum tempo, o Parlamento Europeu aprovou um relatório segundo o qual a União Europeia que tem 79 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza, 15,8% da população, e desperdiça anualmente cerca de metade do que consome em alimentos. Este desperdício corresponde a 89 mil milhões de toneladas, um assombro. Aliás, o Parlamento Europeu estabeleceu como objectivo reduzir em 50% o desperdício até 2025.
Voltando aos produtos com mau aspecto, um trabalho há tempos divulgado avaliava em 30% os produtos que reunirão a qualidade exigida mas que os consumidores devido ao seu aspecto não adquirem pelo que a distribuição também não os compra aos produtores.
Na verdade, seja pelas estapúrdias exigências, entretanto aligeiradas, das normas europeias, seja pela "esquisitice" dos consumidores, muita fruta e hortícolas de boa qualidade são desaproveitados e criminosamente desperdiçados.
A este propósito, lembrei-me de uma história passada aqui no Meu Alentejo em que um dos companheiros que estava nas lérias afirmava que só comia fruta que tinha bicho, "é a que presta", afirmava ele.
Perante a estranheza de outro companheiro explicava, "essa fruta que se vê aí grande e a brilhar e sem bicho não presta, Então nem o bicho lhe pega e vou eu comê-la? Isso é que era bom, se a fruta não é boa para o bicho, é boa para mim?"
Sendo certo que os olhos também comem, o embrulho nem sempre corresponde ao conteúdo.

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