Está em Curso uma Conferência da responsabilidade
da Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre a questão da Indisciplina na
Escola. Sobre esta matéria, algumas notas como contributo para a reflexão.
A indisciplina escolar é matéria de competência
da escola, mas creio, é matéria de responsabilidade de toda a comunidade,
incluindo os pais, naturalmente, e todas as figuras com relevância social, por
exemplo, não se riam, políticos ou jogadores de futebol.
Foi introduzido recentemente um novo Estatuto do
Aluno no qual o MEC depositava públicas esperanças que me pareceram, desde
sempre, sobrevalorizadas. O Estatuto do Aluno, qualquer que seja, é um
regulador, melhor ou pior, mas nunca A solução e, pela mesma razão, nunca será
A causa da indisciplina. Daí a minha reserva face aos discursos do MEC
acreditando que do lado de fora da escola os problemas se resolverão.
Em primeiro lugar parece-me de referir que todas
as figuras sociais a que se colam traços de autoridade por exemplo, pais,
professores, médicos, polícias, idosos, etc., viram alterada a representação
social sobre esses traços. Dito de outra maneira, o facto de ser velho,
polícia, professor ou médico, já não basta, só por si, para inibir
comportamentos de desrespeito.
As
mudanças significativas no quadro de valores e nos comportamentos criam
dimensões novas em torno de um problema velho, a indisciplina. Daqui decorre,
por exemplo, que restaurar a autoridade dos professores, tal como era percebida
há décadas, é uma impossibilidade porque os tempos mudaram e não voltam para
trás. Pela mesma razão, não se fala em restaurar a relação pais – filhos nos
termos em que se processava antigamente e falar da "responsabilização"
dos pais é interessante, mas é outro nada.
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto
mais competente e apoiado se sentir. A grande questão da avaliação dos
professores deveria ser entendida como ferramenta do seu desenvolvimento profissional.
É também importante reajustar a formação de
professores. As escolas de formação de professores não podem “ensinar” só o que
sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos novos professores e
pelos professores em serviço. Problemas "novos" carecem também de
abordagens "novas".
Por outro lado, o MEC não pode desenvolver
políticas que socialmente deixem o professor desapoiado e, simultaneamente,
afirmar que vai restaurar a sua autoridade e promover a sua valorização social, ou ainda políticas que comprometam o clima das escolas.
Também por isto se questiona a incompetente constituição de mega-agrupamentos e de escolas e turmas com dimensões excessivas.
As escolas devem poder usar de autonomia para
desenvolver dispositivos de apoio, por exemplo, a existência de outros técnicos
e a utilização regular de dois professores em sala de aula. Não é necessário
aumentar o número de professores, é imprescindível que os recursos sejam
geridos de outra maneira.
Parece também importante a existência de estruturas de mediação entre a escola e a família o que implica a existência de recursos humanos qualificados e disponíveis. Veja-se o trabalho dos GAAFs apoiados pelo IAC ou iniciativas que algumas escolas conseguem desenvolver e que permitam apoiar os pais dos miúdos maus que querem ter miúdos bons e identificar as situações para as quais, a comprovada negligência dos pais exigirá outras medidas que envolvam, eficazmente e em tempo oportuno as CPCJ.
Escolas organizadas, com cultura institucional
sólida traduzida na adequação e consistência dos seus projectos educativos e
com lideranças eficazes são mais organizadoras dos comportamentos de quem nelas
habita, como qualquer outra organização.
Os discursos demagógicos e populistas, ainda que
bem intencionados, não são um bom serviço à minimização dos incidentes de indisciplina que
minam a qualidade cívica da nossa vida alé, naturalmente, da qualidade e sucesso do trabalho educativo de alunos, professores e pais.
2 comentários:
IAC, CPCJ, MEC... será que o leitor tem que saber o significado destes acrónimos? Ou o texto é só dirigido a "conhecedores"?
Tem toda a razão, as minhas desculpas, a pressa com que elaborei o texto ditou esta situação
IAC - Instituto de Apoio à Criança
CPCJ - Comissão de Protecção de Crianças e Jovens
MEC - Ministério da Educação e Ciência
GAFF - Gabinete de Apoio ao Aluno e a Família
Acho que estão esclarecidos os acrónimos usados e só ao alcance dos "conhecedores".
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