Segundo dados do Serviço de Intervenção nos Comportamentos
Aditivos e nas Dependências (SICAD) 9000 novos casos de toxicodependência chegaram aos centros de
tratamento sendo que na última década se verificou um acréscimo de 70 %.
Aumentam também significativamente o número de recaídas. José Goulão o director
do Serviço entende que o quadro de crise não é alheio a este acréscimo dos
consumos devido à fragilização e vulnerabilidade pessoal e social que as
dificuldades podem induzir.
Aliás, há tempos noticiava-se também o aumento do recurso à
plantação e comércio "caseiro" de drogas por muitos jovens como forma
de lidarem com as dificuldades decorrentes da crise. Por outro lado, os
técnicos, a nível europeu, temem o risco do desinvestimento ou cortes nas
políticas e actividades envolvidas no combate, prevenção e tratamento destas situações.
Também em Portugal os recursos disponíveis e as mudanças produzidas neste universo produzem um cenário de alguma preocupação que diferentes especialistas têm referido.
Como muitas vezes tenho afirmado, existem áreas
de problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são
claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não
intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta
em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos
dessas áreas. No entanto, como verificámos o Governo inexplicavelmente consegue
admitir a existência de álcool “bom” que pode ser adquirido aos 16 anos e de um
álcool “mau” que só pode ser adquirido aos 18 anos.
Quadros de dependência não tratados
desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa
espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência.
Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico,
reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho
profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez
custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Os consumos, de diferentes substâncias,
designadamente por parte dos adolescentes e jovens podem relacionar-se com
alguma negligência paternal mas, na maioria dos casos, trata-se de pais, que
sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber, desejando que o tempo “cure”
se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e como
lidar com a questão. De fora parece fácil produzir discursos sobre soluções,
mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes sentida como
maior que eles, justificando-se a criação de programas destinados a pais e aos
adolescentes que minimizem o risco do consumo excessivo.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é
caro, façam as contas aos resultados do descuidar.
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