quarta-feira, 17 de junho de 2009

OS NOSSOS CANTEIROS DE FLORES

O Público de hoje, 16, traz uma interessante peça de Bárbara Wong sobre o trabalho realizado em Portugal por Javier Urra, “O Que Ocultam os Filhos, O Que Escondem os Pais” centrado no nível de transparência do diálogo pais-filhos, ou seja, a existência e a gestão de segredos entre ambos. Javier Urra também constata a existência de “dois tipos de casas em Portugal, o hotel e o lar”. O que ele chama de hotel é aquilo que eu, numa expressão que não é minha mas cujo autor não recordo, designo por um grupo de pessoas com a chave do mesmo apartamento”. Mas vamos ao “contar tudo” ou ao saber tudo”. É normal muitos pais terem a tentação de “saber tudo”o que passa nos e com os filhos. Até existem pais (mães sobretudo) que acreditam mesmo que os filhos contam tudo. Do meu ponto de vista, só por ingenuidade ou voluntarismo os pais assim podem pensar. Por outro lado, filhos “que contem tudo”, provavelmente estarão doentes. Ninguém conta tudo a ninguém, todos nós, mais crescidos ou menos crescidos, temos um canteiro algures guardado em nós com umas plantas, flores ou cactos, mais bonitas ou menos bonitas, bem cheirosas ou nem por isso, que só nós conhecemos, que são as nossas. Somos nós que cuidamos desse canteiro, que regamos, que podamos, que adubamos, que substituímos as flores. Esse canteiro é fundamental para o nosso bem-estar, embora nos possa, de quando em vez, causar algumas inquietações.
A grande e essencial questão, Javier Urra sublinha isso, é a confiança e disponibilidade para se conversar sobre o que é preciso, não sobre o tudo. Essa confiança e disponibilidade são o que nos permite entender a família como um “porto de abrigo” que nos acolhe, a todos, pais e filhos, sobretudo em momentos de mar tormentoso.

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