Pode parecer uma coisa estranha mas existem coisas pequenas que, quando reparamos bem nelas acabam por parecer do tamanho do mundo, outras vezes olhamos para o mundo e ele próprio parece pequeno. Aqui no meu Alentejo lembrei-me de Moçambique, já vos tenho trazido histórias de lá, mais uma. Em Inhambane, terra da boa gente, estava uma noite à conversa com o velho Bata, aquele que sabia escrever nem que fosse com uma Parker e era capaz de ler até à última letra, e começámos a falar, não me recordo porquê, daquelas pessoas que passam a vida a querer agradar aos outros, que dizem, pensam e fazem o que alguém mandar, de pessoas que “não existem” por si, que não têm ideias próprias, etc. Depois de umas trocas de exemplos e considerações sobre as nossas experiências de vida nesta matéria, o velho Bata rematou.
Sabe, há pessoas que têm a cabeça guardada numa gaveta e quando têm que sair e pôr um chapéu, vão buscar a cabeça para o segurar, são umas cabeças sem dono.
Esta coisa de uma cabeça sem dono pareceu-me curiosa. De vez em quando ainda me interrogo se consigo mesmo ser o dono da minha cabeça e noto como, de facto, tanta gente tenta ser o dono da cabeça dos outros.
Sabe, há pessoas que têm a cabeça guardada numa gaveta e quando têm que sair e pôr um chapéu, vão buscar a cabeça para o segurar, são umas cabeças sem dono.
Esta coisa de uma cabeça sem dono pareceu-me curiosa. De vez em quando ainda me interrogo se consigo mesmo ser o dono da minha cabeça e noto como, de facto, tanta gente tenta ser o dono da cabeça dos outros.
1 comentário:
Gostei! Todos sabemos que existem pessoas assim, mas nunca tinha ouvido essa expressão, que me fez reflectir. E aquelas que, além de "cabeças sem dono", ainda pretendem manipular outras cabeças, também "sem dono" e com alguns antecedentes pré-delinquentes?
Vem esta conversa a propósito de um pequeno episódio, ocorrido ontem, na sala de espera do hospital da terra onde vivo. Passo a citar umas partes mais "relevantes", às quais assisti impávida e, aparentemente, surda e muda.
1ª pessoa- ... olha o meu marido é muito jeitoso...muito mais que eu...mas eu já lhe disse: se me enganas, eu vou ter com ela e fica marcada para toda vida.
Todas as mulheres presentes concordaram (em coro).
2ª pessoa - Pois o meu homem já me fez isso.
1ª pessoa- E tu, não a "esganaste"? Olha, vai ter com ela, assim num sítio que ninguém veja e deixa-a "marcada"...mas, que o teu homem te enganava, já toda a gente sabia, menos tu...como descobriste?
2ª pessoa – Ele andava a tomar muitos banhos...
1ª pessoa - (personagem principal) e mais o restante grupo - Vai-te a ela! Olha que ficas sem o teu homem...Vai-te a ela! Vai-te a ela!(coro)
Eu, "calmamente", a tentar ler um livro que havia levado comigo e que "li" mais depressa que o profº Marcelo, embora, hoje, apenas me recorde do título do mesmo...eis que a 2ª pessoa (mesmo sentada ao meu lado) se virou para mim e me perguntou: "Vizinha, o que está a ler, é bíblico?" ao que eu respondi: Não, não é. – E esta foi a minha única "entrada em cena".
Não terei eu sido, naquele momento, acéfala? Mantive-me silenciosa...fui uma "pessoa sem cabeça"? Mas aquela conversa fez-me reflectir acerca de alguns valores, no mínimo preocupantes, da nossa sociedade. Como educarão estas pessoas os seus filhos? Quando ouvem notícias acerca de violência doméstica, o que dirão? Que comportamentos poderão, eventualmente, vir a ter estas mulheres, que afirmam que a um homem tudo fica bem?..."eles não têm culpa, são homens...as culpadas são elas, porque os desafiam..."
Não me considero moralista, mas esta conversa chocou-me, porque me deixou preocupada enquanto cidadã.
mariana emídio
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