quinta-feira, 23 de maio de 2019

O AUMENTO DOS COMPORTAMENTOS ANTI-SOCIAIS EM ADOLESCENTES


É conhecido o relatório de actividade das CPCJ em 2018. Comparativamente a anos anteriores as alterações não significativas para a generalidade da tipologia de situações mas alguns dados merecem particular atenção.
A negligência é motivo para 43.1% dos casos reportados, em segundo lugar temos os comportamentos de natureza anti-social do adolescente ou jovem, 18.7% (2606 casos) e em terceiro na frequência está o não cumprimento do direito educação, absentismo e abandono escolar (17.4%, 2422 casos).
É evidente que qualquer situação reportada é grave mas merece particular referência o aumento que de ano para ano se está a verificar nos “comportamentos de risco, anti-sociais”. Nos últimos cinco anos verificou-se um aumento ao ritmo de 3% em cada ano, as situações concentram-se na faixa entre os 15 e 17 anos e de acordo com a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens consideram-se "situações de comportamento social incontrolável e indisciplinado, consumos de álcool, estupefacientes e adição às novas tecnologias".
O aumento destas situações merece a reflexão e, sobretudo, uma intervenção preventiva e remediativa que minimize a sua emergência e permita um maior controlo dos riscos e, desejavelmente a reabilitação dos comportamentos sociais adequados e saudáveis.
Parece-me importante que os comportamentos evidenciados por estes adolescentes não são a causa dos seus problemas, são uma consequência do seu mal-estar. Este entendimento não tem a ver com nenhuma intenção de desresponsabilização dos jovens ou com uma visão idealizada e romântica destas idades.
Sabemos que por várias razões, os outros dados do relatório ajudam a entender, existem contextos familiares pouco saudáveis e os recursos disponíveis nas escolas não são suficientes (nem adequados muitas vezes) para lidar com estas situações.
Sem querer desculpar ou branquear comportamentos creio que o nosso quotidiano vive inquinado com sementes de mal-estar que por um qualquer "gatilho" ou circunstância, por vezes irrelevantes, se transformam em comportamentos anti-sociais ou mesmo violência dirigida a quem quer que seja, às vezes contra si próprios.
Vai sendo tempo de nos interrogarmos sobre os tempos que vivemos, os valores que os informam, os modelos de discursos e comportamentos que evidenciamos, dos anónimos às elites e desde logo com as crianças, os atropelos à dignidade e direitos, a ausência de projectos de futuro que nos permitam a esperança e substituam o vazio em que muita gente, mais velha ou mais nova, vive. É neste caldo de cultura que nascem e se desenvolvem as sementes de mal-estar.
Estas sementes estão “incubadas” muitas vezes desde a infância e adolescência e podem ir passando despercebidas até que o peso interior leva à “necessidade” da sua exteriorização e um qualquer “gatilho” vai detonar um conjunto de comportamentos que podem mesmo ser de extrema violência.
Sabemos que a prevenção e programas de natureza comunitária, socioeducativa, têm custos mas importa ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da pobreza, exclusão, delinquência continuada e da insegurança.
É essencial uma atenção precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.

Sem comentários: