Ao longo do ano lectivo têm sido
recorrentes as notícias relativas às dificuldades de suprimir a falta de
docentes em alguns grupos e níveis de ensino por parte das direcções escolares.
As razões são múltiplas mas o cenário mostra que a narrativa tão “vendida” dos
professores a mais talvez não fosse tão evidente e que, como sempre em
educação, as contas sobre o número de professores necessários ao sistema nunca
dão certo.
As dificuldades de “recrutamento”
reportadas pelos directores referem também as condições de precariedade e de carreira
ou da falta de docentes em algumas áreas disciplinares e o número significativo
de docentes em situações de baixa médica.
Em Dezembro escrevi aqui um texto
sobre esta questão que de há muito se anuncia a que chamei “Mayday, Mayday”
tendo retirado o título de um artigo histórico de um dos meus Mestres, o
Professor Joaquim Bairrão Ruivo que também o usou com o sentido que tem na
aviação. A situação é mesmo grave.
Num trabalho divulgado no final
de 2018 pela OCDE, “Reviews of School Resources: Portugal 2018” retoma-se algo
que tem vindo ser questionado nos últimos anos, designadamente nos dados divulgados
pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e em estudos do CNE,
o envelhecimento brutal da classe docente e as potenciais consequências
negativas e que se agrava a cada ano que passa. Como escrevi várias vezes a
este propósito, num país preocupado com o futuro o cenário existente faria
emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em conformidade.
Ao perfil dos docentes
profundamente inquietante em termos de
idade acresce que como é reconhecido em qualquer país, a profissão docente e
altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e
mental provocado pela vida profissional, associado a baixos níveis de
satisfação profissional. Também o estudo da OCDE refere aspectos desta natureza
e numa classe envelhecida o risco é, obviamente, mais elevado.
Na verdade, este cenário só pode
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros
países, sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de
apoios sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stresse
e burnout.
Este quadro é inquietante, uma
população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as oscilações
da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do
sistema, novos e velhos, como também não explicam a escassíssima renovação,
contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é
bastante superior a presença de docentes mais jovens. Não esqueçamos ainda a
deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas
décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo,
um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de
desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas
relações que a comunidade estabelece com estes profissionais.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada e pouco apoiada que muitas vezes pergunta "Quanto tempo é que te
falta?"
Com a
previsível aposentação de milhares de professores num prazo relativamente curto
teremos uma significativa falta de docentes. O problema é que muito pelo contributo de opinadores
e por efeitos de algumas das políticas públicas em matéria de educação a
profissão de professor perdeu capacidade de atracção.
Seria desejável que não nos esquecêssemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.
Seria desejável que não nos esquecêssemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.
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