Neste final de ano lectivo o
Tribunal de Contas alerta para a insustentabilidade da medida de gratuitidade
dos manuais escolares caso não se eleve substancialmente a taxa de reutilização
que terá ficado pelos 4% dos livros distribuídos neste ano lectivo. Nada de
novo, estamos habituados a que as contas da educação nunca dêem certas.
Para além de decisões de muitos
pais e de algumas escolas no sentido de não reutilizarem manuais, uma questão
significativa é a dificuldade de produzir manuais com características que sejam
amigáveis da reutilização apesar das orientações, agora mais explícitas para o
próximo ano, no sentido de que a potencialidade de reutilização seja real.
Como disse há algum tempo, a operacionalização
deste caminho, a reutilização dos manuais escolares, não seria fácil.
A elaboração dos manuais
escolares, um importante nicho de mercado, sempre considerou a sua não
utilização. De facto, a quantidade e o tipo de trabalho que os alunos realizam
no manual impede a sua reutilização. Acresce que as mudanças frequentes quer
nos conteúdos curriculares, quer nos manuais aprovados nos diferentes
agrupamentos e escolas serão também um obstáculo à sua reutilização.
Neste sentido, a gratuitidade dos
manuais escolares e a sua reutilização exigem um outro olhar sobre os manuais,
considerando quer os conteúdos e apresentação, quer a utilização. As práticas
já desenvolvidas em muitas salas de aula e a experiência de outros sistemas
educativos mostra que é possível apesar da evidente resistência dos donos do
mercado do livro escolar.
Assim, e com tantas vezes tenho
afirmado creio que o caminho a percorrer em matéria de manuais escolares
deveria incluir estratégias que tentassem contrariar o que costumo designar por
uma excessiva “manualização” do ensino que emerge de práticas pedagógicas pouco
diferenciadas muito decorrentes de conteúdos curriculares que apesar do “mantra”
da flexibilidade curricular ainda são “passados” de forma prescritiva e
normalizadora. Seria desejável atenuar a fórmula predominante, o professor
ensina com base no manual o que o aluno aprende através do manual que o pai
acha muito importante porque tem tudo o que professor ensina.
Em algumas circunstâncias, o
número de alunos por turma é também um factor contributivo para este cenário. A
adequação do número de alunos por turma ao abrigo de uma verdadeira
autonomia das escolas e dos docentes, permitiria a alunos e professores um
trabalho de pesquisa e construção de conhecimentos com base noutras fontes
incrementando, por exemplo, a acessibilidade a conteúdos e informação
diversificada que as novas tecnologias oferecem.
A construção dos próprios
manuais, tendo um outro papel no trabalho de alunos e professores, pode evitar a
sua utilização como suporte do trabalho dos alunos e, assim, não impedir a sua
reutilização. Aliás, o mercado também é fértil em materiais como “cadernos de
actividades”, “fichas”, “Cds”, etc. que são suportes para o trabalho dos alunos
A questão é que os manuais
escolares constituem um importantíssimo nicho de mercado potenciado por esta
enorme quantidade de materiais que os acompanham. Como também é
previsível, numa sociedade de consumo e desperdício a cultura de reutilização é
pouco sólida e alimenta a resistência à reutilização é grande e dificulta o
surgimento de outro tipo de manuais ou mesmo o seu abandono.
É também sabido que a
reutilização de manuais é prática já verificada em muitos países.
Os manuais escolares são
disponibilizados pelas escolas e devolvidos pelos alunos no final do ano
lectivo ou da sua utilização. As famílias são responsabilizadas pelo seu
eventual dano ou extravio e ficando, assim, com "folga" para
aquisição de outros materiais, livros por exemplo, um bem com pouca presença em
muitos agregados familiares.
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