O calendário tem circunstâncias
curiosas, num tempo em que os professores travessam tempos conturbados foi conhecido que no âmbito da iniciativa Global Teacher Prize Portugal o Professor
Rui Correia (Escola Básica de Santo Onofre/Agrupamento de escolas de Raul
Proença nas Caldas da Rainha) foi considerado o melhor professor de Portugal.
Sucede a José Jorge Teixeira,
professor de Física e Química na Escola Secundária Júlio Martins em Chaves.
Uma saudação a Rui Correia e a recomendação
para que se leiam as peças sobre o seu trabalho e, sobretudo, sobre a sua
pessoa.
Como já referi o ano passado acho
que este tipo de iniciativas pode ter algum significado sobretudo como valor
simbólico da necessária valorização e reconhecimento do trabalho dos professores num tempo
em que tal reconhecimento e valorização nem sempre são sólidos e expressos, antes pelo contrário. No
entanto, não acredito muito na ideia do melhor professor de …
A esmagadora maioria dos
professores é competente e empenhada nesse trabalho, procurando desenvolvê-lo
com qualidade, rigor e eficácia, sem facilitismos, contrariamente ao que tantas
vezes se afirma de forma ignorante. Todos os dias, em todas as escolas muitos
professores fazem trabalhos de notável qualidade que mais frequentemente apenas
são valorizados e conhecidos … pelos seus alunos, todos os alunos.
Quando qualquer de nós faz um
esforço para recuperar lembranças positivas sobre os professores, poucos ou muitos,
com que nos cruzámos durante o nosso trajecto escolar, creio que quase todos
nos lembramos de professores que continuam na nossa lembrança não só pelos
saberes escolares que nos ajudaram a adquirir mas, sobretudo, por aquilo que
representaram e foram para nós, ou seja, pela forma como nos marcaram. Cada um
desses professores é, certamente, o melhor professor que conhecemos.
Por isso, cada vez mais estou
convicto de que os professores, tanto quanto ensinar o que sabem, ensinam o que
são, ou seja, existem muitos que nos ensinam saberes, o que é bom e
indispensável, mas nem todos permanecem com a gente.
Parece-me sempre oportuno mas
nestes tempos mais que nunca acentuar a importância desta dimensão mais ética e
afectiva do ensino. Deve ser valorizada e promovida para que os miúdos possam,
posteriormente, falar dos professores que os marcaram e que, por essa razão,
continuaram com eles.
Para complementar permitam-me
recuperar uma história que já aqui coloquei, o Mestre Teixeira, o mestre de
Fusíveis.
O Mestre Teixeira foi há muitos
anos professor de uma escola que havia naquele tempo que se destinava mais a
ensinar o saber-fazer do que o saber-saber. Chamavam-lhes escolas técnicas,
umas mais dirigidas para a indústria, as industriais, outras mais dirigidas para
os serviços, as comerciais.
O Mestre Teixeira era professor
numa escola industrial e era especialista nas coisas da electricidade, sabia
tudo sobre esse mundo e tinha, isso é que o fazia ser como era, uma paixão
enorme por aquelas coisas. Algumas pessoas, o Mestre Teixeira era uma delas,
gostam que toda a gente goste das coisas que os apaixonam e era a partir dessa
paixão que ele se relacionava com os alunos.
Mas a grande virtude do Mestre
Teixeira era a sua capacidade para entender os alunos, ler os alunos, como eu
costumo dizer. Tinha uma capacidade notável de perceber o que se passavam com
os adolescentes, o que os levava aos comportamentos ou às dificuldades que
evidenciavam. Era quando ele falava qualquer coisa como "tens algum
fusível a precisar de ser visto ou a queimar". Tinha então a sabedoria
para perceber o que se passava e "arranjar" os fusíveis que não
estavam em boas condições. Tal sabedoria e faziam dele um daqueles professores
que nos marcam, ensinam o que são, mais do que o que sabem, mesmo quando sabem
muito, como era o caso do Mestre Teixeira.
Por isso toda a gente lhe chamava
O Mestre de Fusíveis. Hoje, mais do que nunca, fazem falta os Mestres de
Fusíveis. Como o Professor Rui Correia certamente será.
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