Com um bocadinho de sorte teria nascido
numa família que o desejasse, amasse e onde não representasse um estorvo.
Com um bocadinho de sorte teria
brincado quando foi a altura de brincar.
Com um bocadinho de sorte teria
passado por uma escola que sentisse sua e onde se acreditasse que era capaz.
Com um bocadinho de sorte teria
encontrado os amigos certos que não o levassem por descaminhos.
Com um bocadinho de sorte teria
encontrado alguém que gostasse dele e ficasse a seu lado.
Com um bocadinho de sorte não
teria a vida, má e feia, em que mergulhou.
Com um bocadinho de sorte teria
percebido que o consumo o consumiria.
Com um bocadinho de sorte não
teria estado naquele momento, naquele sítio.
Com um bocadinho de sorte não
teria acabado assim, ainda novo.
Com um bocadinho de sorte teria
sido gente.
(...)
Tantos miúdos que nascem e crescem sem um bocadinho de sorte. Dizem que é destino ... ou fado. Será que não conseguimos contrariar o destino?
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