Quando nasceu, alguém exclamou
que parecia um Ninguenzinho e assim ficou, Ninguenzinho. Manteve-se sempre mais
pequeno que os miúdos da sua idade. Contrariamente ao que as pessoas esperam de
miúdos pequenos o Ninguenzinho era o mais apagado e discreto dos miúdos, quase
não se dava por ele. Como sabem, as pessoas preocupam-se fundamentalmente com
os muitos bons e com os muito maus e por isso, praticamente, não reparavam no
Ninguenzinho.
A escola foi cumprida a um canto,
triste e sem que alguém, alguma vez, se lembrasse de uma palavra ou gesto de
apreço ou incentivo ao Ninguenzinho. Como sabem na escola, notam-se e merecem
atenção sobretudo os muito bons alunos e os muito maus alunos.
Fez-se adulto como sempre foi ao
crescer, num canto, triste e na sombra. Como sabem, as pessoas reparam
sobretudo naqueles que brilham, por coisas boas ou por coisas más.
O Ninguenzinho manteve-se sempre
só, sem família sua e sem amigos seus. Como sabem, as pessoas reparam mais nos
que têm gente à volta, por boas ou más razões.
No dia em que o Ninguenzinho
deixou de aparecer, ninguém reparou na sua falta. Como sabem, as pessoas só
notam a falta de quem é alguém, não de quem é um Ninguenzinho.
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