O PAN apresentou ontem no
Parlamento um projecto de resolução que que recomende ao Governo que “proporcione
as condições adequadas, nomeadamente leito ou colchão, ambiente calmo, escuro,
com temperatura adequada, limitação de ruído e com vigilância, a todas as
crianças em idade pré-escolar a fim de assegurar a qualidade do sono da sesta”.
Pretende que se garanta que todas as crianças a frequentar a educação
pré-escolar em estabelecimentos públicos ou privados tenham condições para
dormir a sesta.
A este propósito umas notas.
Há muitos anos o meu filho frequentava
um jardim-de-infância da rede social, onde esteve globalmente muito bem
acompanhado, a adaptação correu bem mas a partir de certa altura começou a
pedir para que se possível o fôssemos buscar logo a seguir ao almoço. Para
abreviar a história só algum tempo depois é que percebemos que o gaiato, na
altura com quatro anos e ainda um sesto-dependente, se sentia muito
desconfortável por ter de dormir calçado, isso mesmo, calçado. Falámos com a
educadora e com a auxiliar, a situação alterou-se, a sesta ficou tranquila e o
João feliz. É um exemplo de miúdo para o qual a sesta era importante e foi-o
mais algum tempo, ainda nos rimos hoje cá em casa porque era frequente quando
passeávamos naquela época ter que me sentar num banco de jardim onde ele
adormecia facilmente durante um tempinho, ficando pronto e em forma para o
resto do dia.
Também é conhecido que em muitas instituições, por várias razões, se determina uma idade, quase sempre aos três anos e menos frequentemente os quatro, a partir da qual se retira às crianças a
possibilidade da sesta, "proibindo-a".
Como em muitos outros aspectos as
crianças não têm padrões de sono/vigília iguais pelo que umas, mais cedo que
outras, começam a dispensar a sesta e algumas, é bom não esquecer, a adquirir
estilos de vida que não sendo contrariados pelas famílias as levam rapidamente
a viver com menos horas de sono do que seria desejável com várias consequência
menos positivas. Todos os estudos sobre esta questão assinalam a falta de
qualidade do sono nas nossas crianças e também nos mais velhos com consequências
significativas em várias dimensões
Por outro lado, muitas vezes a
alternativa que em muitas instituições é oferecida para ocupar este tempo é ela
também de má qualidade. Não há muito tempo foram divulgada a situação de
crianças que não faziam a sesta e ficavam numa sala na penumbra a ver
televisão.
Além disto, deve ainda
considerar-se que boa parte das crianças estão nas instituições durante um
número de horas significativo pelo que a sesta poderia ser um factor de repouso
e corte numa presença institucional diária de longa duração.
Assim, parece uma questão de bom
senso e qualidade educativa, permitir que no jardim-de-infância e sem o limite
rígido da idade as crianças cumpram uma sestazinha que só faz bem e que deixa
muitos de nós cheios de inveja.
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