quinta-feira, 9 de maio de 2019

PERMITAM-LHES A SESTA


O PAN apresentou ontem no Parlamento um projecto de resolução que que recomende ao Governo que “proporcione as condições adequadas, nomeadamente leito ou colchão, ambiente calmo, escuro, com temperatura adequada, limitação de ruído e com vigilância, a todas as crianças em idade pré-escolar a fim de assegurar a qualidade do sono da sesta”. Pretende que se garanta que todas as crianças a frequentar a educação pré-escolar em estabelecimentos públicos ou privados tenham condições para dormir a sesta.
A este propósito umas notas.
Há muitos anos o meu filho frequentava um jardim-de-infância da rede social, onde esteve globalmente muito bem acompanhado, a adaptação correu bem mas a partir de certa altura começou a pedir para que se possível o fôssemos buscar logo a seguir ao almoço. Para abreviar a história só algum tempo depois é que percebemos que o gaiato, na altura com quatro anos e ainda um sesto-dependente, se sentia muito desconfortável por ter de dormir calçado, isso mesmo, calçado. Falámos com a educadora e com a auxiliar, a situação alterou-se, a sesta ficou tranquila e o João feliz. É um exemplo de miúdo para o qual a sesta era importante e foi-o mais algum tempo, ainda nos rimos hoje cá em casa porque era frequente quando passeávamos naquela época ter que me sentar num banco de jardim onde ele adormecia facilmente durante um tempinho, ficando pronto e em forma para o resto do dia.
Também é conhecido que em muitas instituições, por várias razões, se determina uma idade, quase sempre aos três anos e menos frequentemente os quatro, a partir da qual se retira às crianças a possibilidade da sesta, "proibindo-a".
Como em muitos outros aspectos as crianças não têm padrões de sono/vigília iguais pelo que umas, mais cedo que outras, começam a dispensar a sesta e algumas, é bom não esquecer, a adquirir estilos de vida que não sendo contrariados pelas famílias as levam rapidamente a viver com menos horas de sono do que seria desejável com várias consequência menos positivas. Todos os estudos sobre esta questão assinalam a falta de qualidade do sono nas nossas crianças e também nos mais velhos com consequências significativas em várias dimensões
Por outro lado, muitas vezes a alternativa que em muitas instituições é oferecida para ocupar este tempo é ela também de má qualidade. Não há muito tempo foram divulgada a situação de crianças que não faziam a sesta e ficavam numa sala na penumbra a ver televisão.
Além disto, deve ainda considerar-se que boa parte das crianças estão nas instituições durante um número de horas significativo pelo que a sesta poderia ser um factor de repouso e corte numa presença institucional diária de longa duração.
Assim, parece uma questão de bom senso e qualidade educativa, permitir que no jardim-de-infância e sem o limite rígido da idade as crianças cumpram uma sestazinha que só faz bem e que deixa muitos de nós cheios de inveja.

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