sábado, 25 de maio de 2019

DIA DE REFLEXÃO


Cumpre-se o dia da reflexão, véspera das eleições europeias. Terminou uma campanha eleitoral que praticamente não existiu. Talvez pudéssemos aproveitar o dia da reflexão para, por um lado, para decidir ir mesmo votar e, por outro lado, para pensar como exigir que uma campanha eleitoral seja o que se espera, apresentação e discussão de ideias e projectos que contribuam para o bem-estar e desenvolvimento colectivos. Assistimos, isso sim e com algumas excepções, a um espectáculo degradante e cacofónico que terá dado um forte contributo para uma inquietante abstenção que leva a que uma minoria, parte mobilizada também por valores e convicções mas outra parte influenciada por manipulação e desinformação possa decidir sobre os destinos de uma maioria desinteressada e cansada.
Os discursos, insisto nas excepções, foram de uma mediocridade notável e centrados excessivamente em “não assuntos”, ataques pessoais e insultos, afirmações manhosas que compõem uma democracia com défice de solidez ética, competência e visão.
No então e felizmente continuámos a ter esse estimulante fenómeno típico das campanhas eleitorais que dá pelo nome de “arruadas”, o passeio de um qualquer candidato por espaços públicos, sobretudo os mais frequentados.
É certo que em qualquer altura a deslocação de uma figura política ao que gostam de chamar o “país real” é já uma amostra, mas em campanha pela conquista de mais um voto o espectáculo é deveras estimulante embora talvez resulte na conquista de mais uma abstenção. Quando olho para aquelas imagens acabo por lhes encontrar alguma piada.
Tentem entender o meu ponto de vista e reparem, por exemplo, no comportamento e atitude das figuras de segunda linha que aparecem sempre coladas aos “importantes”, aos candidatos ou a estrelas, “ex-líderes” por exemplo. Normalmente, seguem um passo atrás de qualquer entidade que leve uma câmara de televisão a segui-la. Os figurantes constituem um grupo numeroso. Por este facto, nem sempre cabem no ecrã e então, assiste-se, por vezes de forma pouco discreta ao esforço para aparecerem. Compõem um sorriso circunspecto e enquanto a entidade é entrevistada é ver os figurantes a inclinar a cabeça em sinal de aprovação ao mesmo tempo que procuram compor um ar inteligente e condescendente para com a comunicação social. Têm a secreta esperança de merecer um primeiro plano que constitua prova de vida.
Acho também muito estimulante o papel dos “operacionais”, quase sempre os elementos das “juventudes partidárias” os que fazem o alarido, agitam as bandeiras e gritam as palavras de ordem e que, numa preventiva iniciativa para que não fiquem tão à rasca mais tarde, vão fazendo a sua formação que lhes permita uma carreira aparelhística ou, pelo menos, a esperança de um empurrãozinho na vida profissional.
Uma outra parte do espectáculo é o comportamento dos anónimos que se cruzam com a arruada e expressam o que lhes vai na alma face às cores do desfile fazendo com que a arruada pare ou acelere o passo em busca de melhor ambiente. Outra gente anónima que entra na arruada é a que se bate pelos brindes que obrigatoriamente são distribuídos pelas segundas figuras da comitiva. A luta e o melhor posicionamento pela conquista de um boné, saco ou esferográfica é um exemplo de empreendimento e esforço que se esperam recompensados.
Mas o que eu gosto mesmo, é de ver o entusiasmo com que a generalidade dos candidatos é abraçado e abraça muitíssimas vezes, distribui beijinhos pelas criancinhas e velhinhas com um carinho e de uma forma tão genuína que enternece.
As feiras e mercados, terreno para estrelas como o famoso Paulinho das feiras, e as praças e ruas principais são os palcos escolhidos. Este ano até tivemos um líder partidário que em apoio ao seu candidato foi até à praia de fato e gravata, líder que é líder não descura a imagem de sobriedade.
Não sei se vos convenci, mas como diz o povo, “cá p´ra mim” as arruadas são mesmo o que de melhor as campanhas eleitorais têm. O resto é conhecido e quase sempre pouco interessante, lamentavelmente.
Por fim seria desejável que amanhã cumpríssemos um direito que não podemos alienar, o voto.

Sem comentários: