Daqui a pouco vou fazer-me à
estrada para mais um encontro de trabalho com professores do ensino básico,
desta vez e mais uma vez em Peniche. A ideia será conversar sobre diferenciação
no trabalho educativo, uma temática recorrente que da forma como tantas vezes é
abordada corre o risco de perder significado e entra como é mais habitual entre
nós em modo “cada cabeça, sua sentença” ou, de outra forma, “cá para mim,
diferenciação é…”
Não tenho a pretensão do discurso
definitivo, do manual, não creio que exista, encaro estes encontros como espaço
de reflexão que, lamentavelmente e do meu ponto de vista são insuficientes nas
escolas em parte devido à carga burocrática e também questões e modelos de
organização e funcionamento.
Como todos reconhecemos, a
característica mais evidente de qualquer sala de aula ou escola é a
diversidade. Esta é questão central, com
grupos diversos e escolas diversas a resposta deve, tem que ser, diferenciada
sob pena de não acomodar as diferenças entre os alunos comprometendo a
qualidade, o sucesso e a inclusão.
Todo o sistema educativo e as
políticas educativas devem servir de suporte a esta visão e às suas múltiplas implicações.
Indo um pouco mais longe nas
práticas pedagógicas e como nestas se traduz um princípio de diferenciação umas
notas breves sublinhando que alterar alguns aspectos não tem a ver com
“inovação” ou com “novos paradigmas”, terminologia cuja utilização frequente me
irrita um bocado. A questão central pode ser alterar e não inovar, são de há
muito conhecidas boas práticas que diariamente são mobilizadas em muitas
escolas quase sempre com pouca divulgação, até mesmo interna.
Uma primeira nota sobre o
equívoco habitual de que diferenciação é sinónimo de trabalho individual.
Considerando as dificuldades (e o desajustamento) de fazer assentar o trabalho
educativo no trabalho individual, encontra-se assim um suposto “impedimento” à
diferenciação. De facto, diferenciar não é igual a trabalho individualizado,
pelo contrário, implica muito fortemente a aprendizagem cooperada e a
cooperação entre professores. Aliás, verificando-se desejavelmente a
aprendizagem individual por parte de cada aluno a sua construção é social pelo
que mesmo que fosse possível o recorrer exclusivamente ao trabalho individual,
(o que nem com turmas mais pequenas aconteceria) não seria a melhor forma de
trabalhar.
Assim, só o desenvolvimento de
formas diferenciadas de organizar os processos educativos, de gerir a sala de
aula, de avaliar, de gerir a estrutura curricular ela própria com uma concepção
e conteúdos que sejam amigáveis desta diferenciação, de comunicar, de cooperar
com pais e encarregados de educação, etc., poderá permitir responder tão bem
quanto possível à diversidade dos alunos e contextos.
Nesta perspectiva, a organização
e funcionamento de uma sala de aula da forma mais ajustada a recursos e
necessidades contemplar alguma foram de diferenciação em dimensões como:
Planeamento educativo/gestão curricular (aqui entra a “flexibilidade
curricular” mas com conteúdos e organização dos currículos adequados);
Organização do trabalho dos alunos – as múltiplas formas de organizar o
trabalho dos alunos relativamente às situações de aprendizagem; Clima de
aprendizagem – a qualidade e nível de interacção e relacionamento social entre
alunos e entre professor e alunos; Avaliação – os processos relativos à
avaliação e regulação do processo de ensino e aprendizagem; Actividades /
Tarefas de aprendizagem – a escolha das diferentes tarefas ou situações de
aprendizagem a propor aos alunos e Materiais e Recursos – a definição,
utilização e gestão dos materiais e recursos que funcionarão como suporte ao
processo de ensino/aprendizagem.
Mas para que isto seja consistente
e não localizado também sabemos que o sucesso se constrói identificando e
prevenindo dificuldades de forma precoce, com a definição de currículos
adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio eficazes, competentes e
suficientes a alunos e professores, com a definição de políticas educativas que
sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de
autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a definição de
objectivos de curto e médio prazo, com a valorização do trabalho dos
professores, com práticas de diferenciação e expectativas positivas face ao
trabalho e face aos alunos, com melhores níveis de trabalho cooperativo e
tutorial, quer para professores quer para alunos, etc.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.
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