sexta-feira, 31 de maio de 2019

"AS CRIANÇAS NÃO APRENDEM SE NÃO FOREM TOCADAS NOS SEUS CORAÇÕES"


Gostei de ler a entrevista de Bárbara Wong a Alberto M. Carvalho no Público, “As crianças não aprendem se não forem tocadas nos seus corações”. Lê-se no “lead” da peça, “Alberto M. Carvalho é uma espécie de ministro da Educação de Miami-Dade, que defende a equidade. Para isso, luta por criar todas as condições para que o aluno consiga ter sucesso. Da ida ao médico ao jantar, sem esquecer a oferta de um ensino de qualidade. A escola ideal existe, acredita, foi ele que a criou”.
A propósito da reflexão que a entrevista justifica nestes tempos duros em que para muitos falar destas coisas é perda de tempo, entendem que os professores entregam conteúdos e alguns alunos aprendem e os outros, paciência, vão para outros caminhos pois nem todos "têm jeito" para a escola, umas notas repescadas.
As alterações nos estilos de vida, nos valores sociais, culturais, económicos, etc., nos modelos de desenvolvimento económico e consequente visão política e as suas consequências nas políticas educativas parecem ter criado um tempo em que emerge a necessidade de “trabalhar” as emoções nos contextos educativos. Os climas sociais e de aprendizagem em diferentes escolas e salas de aula são pouco amigáveis para alunos mas também para professores como múltiplos estudos evidenciam.
Talvez tenhamos que reflectir sobre isto e retomar coisas velhas, nada “inovadoras”, nada "revolucionárias", nenhum “novo paradigma”, a educação escolar é estruturada e alimentada pela relação e a relação, para que exista e seja positiva, tem como ingrediente … a emoção. Nas minhas conversas por aí sobre estas coisas da educação desafio muitas vezes pais ou professores a recordarem muito brevemente professores de quem guardam boas memórias. Quando lhes pergunto porquê, as justificações remetem muito significativamente para a relação que com eles tiveram, para além do que com eles aprenderam das “coisas da escola”.
Como dizia em cima, a educação escolar, a acção do professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação que se operacionaliza na comunicação. Também por isso são também preocupantes os tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar, para conversar com os alunos e as emoções entram em turbulência e descontrolo. A pressão para os resultados, a extensão dos conteúdos curriculares, o número de alunos por turma, por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala com o programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e como esses é preciso falar mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para conversar, para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são. Quando nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores que nos marcaram pela positiva é pelo que eles eram e nem sempre pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha tido.
Sendo certo que precisamos de ajustamentos regulares no que fazemos, no como fazemos e para que fazemos, não “inovemos” tanto, não queiramos tantos “novos paradigmas”, não "mudemos" tudo pela ilusão mágica da mudança.
Criemos, apenas, o tempo e o modo para que nas salas de aula os professores e os alunos tenham o tempo e a circunstância que lhes permita comunicar, entre si, com a razão e com a emoção. Irão aprender e serão gente de bem.

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