O terceiro período está terminar
e aproxima-se a época de exames. Como costumo dizer, estes são o tempo das
explicações, procura-se a “recuperação” que evite o “chumbo”, o “saltinho” até
à excelência ou a preparação para os exames.
É também habitual que a imprensa
se refira a esta questão. Uma peça no DN tem o sugestivo título “ESCOLA: COMO
OS CENTROS DE ESTUDOS PODEM AJUDAR OS PAIS NESTES TEMPOS DIFÍCEIS”.
São apresentadas algumas
experiências e quer pais, quer responsáveis referem o impacto positivo nos
alunos, sobretudo no que respeita ao desempenho escolar. Os pais referem a
importância de sentir que os miúdos estão apoiados e, sublinho, ocupados. No entanto,
a peça, naturalmente sem intenção, esqueceu aqueles pais que não
conseguem aceder a esta “ajuda”, é cara e está fora das suas possibilidades.
É verdade que a oferta é variada
e, certamente, o custo também. Andar pela proximidade de muitas escolas essa
abundância da oferta de “explicações” recorrendo designações muito variadas, “Centros
de Estudo”, “Sala de Estudos”, “Academias”, “Ginásios”, etc., que provavelmente
terão mais efeito “catch” no sentido de atingir o “target”.
O mercado está sempre atento.
Com alguma regularidade
desloco-me a um local perto de uma escola básica integrada de dimensão
significativa. Como não podia deixar de ser existem vários espaços para
“explicações”.
Um deles, mesmo em frente à
escola, divulga numa enorme montra um impressionante conjunto de serviços.Começa
por afirmar que recorre a metodologias divertidas para aprender melhor.
Depois temos o elenco de
respostas:
Explicações de todos os níveis
Centro de alto rendimento escolar
Preparação para exames
Estratégias educativas
Motivação e auto-estima
Gestão de ansiedade
Stresse nos exames
Mindfulness terapia
Actividades de férias
Confesso que fiquei esmagado.
Escola e professores para quê?
Apesar de nada ter contra a
iniciativa privada, desde que com enquadramento legal e regulada, várias vezes
tenho insistido no sentido de se entender como desejável que os apoios e ajudas de
que os alunos necessitam fossem encontrados dentro das escolas e agrupamentos,
ou seja, os centros de estudo, deveriam estar nas escolas. O impacto no sucesso
dos alunos minimizaria, certamente, eventuais custos em recursos que, aliás, em
alguns casos já existem dentro do sistema.
Esta minha posição radica no
entendimento de que a procura “externa” de apoios, legítima por parte das
famílias, tem também como efeito o alimentar da desigualdade de oportunidades e
da falta de equidade como sucessivos relatórios nacionais e internacionais
referem e de que aqui já falei.
A ajuda externa ao estudo como
ferramenta promotora do sucesso não está ao alcance de todas as famílias pelo
que é fundamental que as escolas possam dispor dos dispositivos de apoio
suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, a
equidade de oportunidades e a protecção dos direitos dos miúdos, de todos os
miúdos.
As necessidades dos alunos
poderiam ser atenuadas com o recurso a professores que já estão no quadro ou
com contratos sucessivos sendo que muitos foram mesmo empurrados para fora.
Também por esta razão a narrativa dos professores a mais é ... isso mesmo, uma
narrativa.
De uma vez por todas, é
necessário contenção e combate ao desperdício, mas em educação não há despesa
há investimento.
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