Gostei de ler, “Dentro das paredes da escola” de João Ruivo que numa reflexão oportuna aborda o que
designamos por “clima de escola” um conjunto complexo de variáveis fortemente contributivo
para a qualidade dos processos de trabalho nos estabelecimentos de ensino.
(…)
O sentimento de pertença a um grupo profissional, o estabelecimento de
mecanismos de colaboração e de partilha, são factores decisivos para
incrementar, ou não, o desenvolvimento profissional dos docentes. Sobretudo,
quando se proporcionam, ou não, atitudes de autonomia, de participação nas
decisões, de repartição das responsabilidades organizacionais e, finalmente, de
gestão participada dos curricula, dos métodos e dos recursos.
(…)
Aos poucos e também fruto de políticas públicas inadequadas em vários domínios, mudança permanente, currículo, autonomia das escolas, valorização social e profissional e a gestão do número de professores, espaços, equipamentos e recursos humanos, técnicos e auxiliares de educação, criação de mega-agrupamentos, etc., as escolas foram-se transformando e, consequentemente, o seu clima de trabalho também.
Acresce que os professores constituem uma classe profissional envelhecida em que os índices de cansaço e exaustão são preocupantes como revelam diferentes estudos. Como fontes desse mal-estar
e para além do comportamento e desmotivação de muitos alunos, os professores
apontam o elevado número de alunos e de turmas (realidade menos considerada), a
pressão para os resultados, insatisfação com as condições profissionais e de
carreira, carga horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de
apoio e suporte das lideranças da escola.
É este conjunto de variáveis,
entre outros que criam um clima em muitas escolas que, como bem assinala João
Ruivo, compromete a estruturação de sentimentos de pertença e de comunidade,
uma variável importante no bem-estar dos profissionais.
Há já algum tempo, numa conversa
pública falei de uma das minhas utopias, sentir que cada vez mais os alunos e
também os professores fogem para a escola. Não porque fujam de onde não se
sentem bem, os contextos familiares, mas porque nas escolas, nas salas de aula,
também se sentem bem e sentem que aí pertencem.
A verdade é que nos tempos que
correm muitos professores, bons professores, por cansaço ou
desesperança que já não fogem para a escola, um lugar de realização, de
trabalho duro mas com uma das maiores compensações que se pode ter, ajudar gente
pequena a ser gente grande.
No entanto e felizmente, muitos
outros professores ainda conseguem fugir para escola, os alunos desses
professores são miúdos com sorte.
Que andamos a fazer com a
educação, com a escola, connosco?
Será que ficou mesmo impossível
acreditar que os miúdos e os professores, de uma forma geral, queiram fugir
para escola?
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